2.3. DEMOCRACIA? POR QUE SIM? A IGREJA BALUARTE DA DEMOCRACIA E COMO SE TEM ENFRENTADO ESSE DESAFIO.
O Calvinismo e as Ideologias Autocráticas e Autoritárias
Introdução
No Ponto 1 desse trabalho, apresentei uma questão que a tempos me intriga, a qual não pode estar desligada de outras que se tem levantado nesse blog.
Uma das quais,
importante e ainda momentosa, segundo entendo, trata da contida no bojo da
proposta de trabalhar a questão do "calvinismo defraudado"
o qual se relaciona a da "liberdade de consciência".
Convida-se o
ilustre transeunte a viajar pelo universo da questão disciplinar da igreja,
frente a posturas políticas individuais consideradas desafiadoras, conquanto comuns
à arena política. Ocorre que essas formas nem sempre costumeiras no ambiente
religioso, revestem-se de expressões insinuantes e provocativas capazes
de conduzir à reação por vezes intimidadora, por vezes retaliativa, ante a tentativa
de condução do discurso para a zona de conflito, no campo das ideias,
além da de conforto. Tais expressões ocorrem tanto por meio de
afirmações fortuitas quanto por meio de respostas dadas a elocuções que expressam
relações de poder espiritual e político, inerentes ao território da (in)tolerância.
Sob a ótica
sociológica, autoafirmados "por cima" tentam conduzir um rebanho (os
"por debaixo", por assim dizer) que ritma os seus passos pelos
senhos que expressam o contentamento com a adesão irrestrita ao posicionamento
“oficial” do grupo, ou o descontentamento com as possíveis "deserções"
e “descaminhos”, até doutrinários, o que viria a prejudicar o “arrebanhamento”
compulsório[1] dos
"santos", em sua maioria ou na totalidade para um determinado rumo
"conservador cristão".
Nesse sentido,
em sociologia aprende-se que todo o grupo social exerce determinados controles[2], normalmente
impostos de cima para baixo pelos líderes (hierarquia social), prepostos
ou participantes mais afinados com o “padrão” mais aceito pelo grupo. Implica em
se questionar, ainda assim, e, portanto, a adequabilidade e abrangência desses
padrões sociais a todos os campos dentre os quais os que envolvem
exclusivamente a decisão pessoal.
Livre é quem
decide por si todos os problemas surgidos ainda que para melhor condução deva
alguns ser submetidos ao escrutínio do grupo. Há decisões pessoais, porém, que
devem ser reservadas a esse escrutínio pessoal íntimo.
Nesse contexto
tem-se a série de postagem, anterior, que tratava de:
I - A quem embarca - o calvinismo defraudado,
consciências vilipendiadas. o calvinismo defraudado,
consciências vilipendiadas. o seriado que trata da coação política e ideológica
nas igrejas evangélicas.
E na sequência:
III. O
chamamento exclusivo e a promessa da inclusão, o que
nos sugere o texto de Mateus 11:26-30,
III. Do
jugo suave dos incluídos e a Ignominiosa coação.
Conciliando esse texto com os de Mateus 13:47-50 e Lucas 14:15-24;
IV. Coação
como falta disciplinar, mais no contexto de Igreja
Presbiteriana do Brasil.
Num alcance mais amplo:
VI. A
saga dos títulos perdidos do Atlético-MG e a conspiração cruzeirense
VII. Apocalipcismos,
milenarismos e os “judeus” alguém para pagar o pato
VIII. O
marxismo cultural.
IX. Bolsonaro,
o santo libertador do Brasil do marxismo cultural.
X. O
dom da profetada e o da palavra da pseudociência.
XI. A
doutrina da predestinação, liberdade de consciência e a inviolável reserva do
coração.
XII. A
salvação, saúde e sanidade espiritual e mental.
XIII.O
fascismo insano.
XIV. A
ameaça de canhões do Forte Orange.
XV. Em
respeito à liberdade de consciência individual.
XVI.A
bendita pauta de costumes, matéria a ser discutida, que gera incidentes de
coação.
Para não os
submeter ao tédio, enjoo ou à exaustão, os amados ou amadas transeuntes podem
apenas ler o último post ao qual foram atraídos (as), pois qualquer post
tem conteúdo próprio e pretende que cada um surta o efeito que possa surtir em
vista à reflexão. Clicam-se os link's indicados apenas quando a curiosidade ou
o interesse o (a) atrair, o que será para esse escriba uma satisfação, maior
ainda se da consulta resultar em algum proveito.
1. A Questão.
O calvinismo posterior a Calvino predispõe os seus adeptos à adesão a ideologias autocráticas e autoritárias, avessas à democracia republicana e liberal?
1.1. Jezabel
Harris: a que ponto chegamos! Parte 1.
1.2. Jezabel Harris: a que ponto chegamos! Parte 2.
1.3. Partidarização política da fé: pecado contra a Igreja.
1.4. O autoritarismo e autocracia puritanas:
herança mal afamada imposta aos calvinistas.
1.5. Horizontes da defesa da democracia no meio religioso.
1.6. Rallie do estado: políticas públicas, aborto, gênero e tantas coisas
tão ou mais importantes.
1.8. Republicanismo,
Sim? Democracia, Não?
2. O Contexto Específico da Questão.
2.1. Antigas
e novas forças políticas após a derrota da extrema-direita na segunda guerra
mundial.
2.2. Polititização e Polarização no
Brasil.
E, aqui vamos nós!!!
2.3. Democracia? Por quesim? A Igreja vocacionada para ser baluarte da democracia e o que ela tem enfrentado.
Quando o
fruto da oliveira decepciona.
Como se aventa
em DEMOCRACIA? POR QUE NÃO?
- Tópico 1.7, do presente estudo, é curioso ler na internet o manifesto
político feito por notórios calvinistas “Acerca das Difamações e Demonstrações
Públicas de Desprezo Contra os Cristãos”, 05/02/2020, Coalizão pelo Evangelho,
lavrado cuidadosamente para “demonstrar” a ausência da simples menção, ainda que desonrosa, à palavra
“democracia”. Em face do que, sequer verifica-se a necessidade de professar
publicamente alguma sensibilidade para a construção política democrática, motivo
por que refletimos sobre o porquê de refugar assim a democracia.
Notório.
Perplexos de novo! |
Como se disse, tal coisa destoa em muito de quaisquer outros manifestos políticos cristãos evangélicos cujos subscritores fariam questão de sublinhar o apreço pela democracia, sugerindo que as manifestações se vinculariam a um certo imaginário proveniente desde a democracia ateniense e que veio ressurgir a partir no mundo ocidental após, e por causa, da Reforma do Século XVI.
Por isso, discorre-se aqui sobre a democracia qualificada ou república representativa, a lembrar a polis ateniense a possibilitar a muitos sugerir que o republicanismo nega a democracia, vista como radical ou anárquica, conforme propugnado nos EUA, à época de independência de tal País, por alguns de seus “pais fundadores”, e que povoa o imaginário político norte-americano. A discussão mais aprofundada foi feita em 1.8. REPUBLICANISMO, SIM? DEMOCRACIA, NÃO?, enfocando os vínculos dessas concepções com o presbiterianismo, por ora, na sequência passa-se a refletir, aqui, DEMOCRACIA? POR QUE SIM? A IGREJA VOCACIONADA PARA SER BALUARTE DA DEMOCRACIA E O QUE ELA TEM ENFRENTADO.
Esperando o fruto da velha oliveira. |
Os valores originais da Reforma não se restringem à direita, muito menos à extrema-direita.
Os valores
originais da Reforma não estão restritos a um dos espectros político-partidários,
ideológicos, específicos, de direita, de esquerda ou de centro. Tais valores
reformados podem embraçar os aderentes de quaisquer dessas orientações,
reunidos em comunhão na igreja. Uma realidade presenciada até a bem pouco tempo
antes da polarização surgida em face da radicalização produzida por reações a
fatos noticiados, fakenews, teorias políticas conspiratórias.
A esse
propósito, nos dias hoje, por motivações e despertamentos ideológicos
diversos, bem ou mal induzidos, tem-se convidado os crentes ao engajamento político.
Tem isso visado propiciar (ou não!) um ambiente de convivência democrática harmônica?
A
propósito, Jean-Bernard Racine[3]
(1940-), prefaciador da obra do Pastor André Biéler[4](1914-2006),
“A Força Oculta dos Protestantes”, publicado pela Editora Cultura Cristã,
notou que a “face oculta” do protestantismo reformado tem sido capturada num
nível acima da trivial “oposição entre valores” cultivados pelos espectros
políticos “da direita, do centro e da esquerda”[5],
posto que ancorada “nos valores originais da Reforma derivados da revelação
cristã” e não nos postulados de ideologia seculares várias.
Tais valores
originais confrontam-se com sérias, apesar de ligeiras, arguições de obsolescência,
caducidade, inexpressividade, superfluidade e irrelevância, ou até mesmo de inocuidade,
direcionadas ao pensamento distintivamente reformado. Essas impressivas, e
impressionantes e, quem sabe, desconcertantes, arguições são disparadas quando em
comparação com os níveis de adesão, em detrimento ao reformado, a sistemas de
pensamento alternativos, abraçados por indivíduos distintos e numerosos grupos
religiosos e políticos: neopentecostais, católicos e laicos (seculares), bem
como os vinculados às demais religiões, crenças e descrenças, algumas a experimentar
grande despertamento: hinduísmo, budismo e até mesmo as crenças de matriz
africana, animistas.
É
clamorosa, pois, a impressão leiga de que o pensamento político reformado não
faz mais frente à concorrência, em suas vertentes religiosas ou irreligiosas (laicas
ou seculares), sobretudo no contexto em que se sobrelevam questões gerais, por
exemplo, a ambiental (mudança
climática) e a necessidade de enfrentamento dos problemas sociais e econômicos
advindos da multiplicação e concentração de riquezas na indústria globalizada
do conhecimento e na comercialização assimétrica de novos bens e serviços
intangíveis, públicos e privados.
De fora, os aderentes do sistema reformado são vistos como confusos diante de “alegadas” questões éticas e morais graves de implicações transcendentais para as quais prescrevem soluções com base em intervenções sobrenaturais (divinas) na natureza ou no espaço público. Flagra-se a preocupação tão-somente com a abordagem que interessa internamente apenas ao grupo social religioso, cuja disciplina (eclesiástica) logicamente encontra-se desconectada com a função legislativa e jurisdicional do Estado.
Soa ainda
mais desairoso o sistema reformado quando os próprios aderentes informam
tratar-se de algo que não se simpatiza com a democracia. Os aderentes pró-Trump
e pró-Bolsonaro que pululam os círculos reformados no Brasil demonstram
perfilamento entre os buscam matar a democracia apoiando políticos autoritários
que renegam valores democráticos e buscam usar a própria democrática para
acabar com ela por meio de medidas executivas de constitucionalidade duvidosa,
sobre o que tratam Levitsky e Ziblatt[6]
em “Como as democracias morrem”. Então, os
outros sistemas, mas principalmente o irreligioso-laico, parece levarem
vantagem de dezenas de voltas, porquanto muito mais prestigiados, o que tem
provocado angustioso ressentimento e não pouca frustração nos apreciadores do
sistema reformado.
Apesar de
todo o ora aventado, soa até pretencioso nessa quadra vivida, o Pastor Biéler ter-se
proposto a questionar se o protestantismo
representa ainda algo semelhante a uma oportunidade ou ameaça (?) à sociedade
moderna.
Em grande medida, ao ver do Autor e de Racine, o
protestantismo reformado ainda representa uma “oportunidade” de contribuição à
sociedade no sentido de poder valer-se dele em face das demandas e desafios de
hoje, tal como fora no passado.
Será isso verdade?
Fosse o caso, o protestantismo poderia entrar como um
elemento novo, catalizador e rejuvenescedor capaz de arejar as estruturas
sociais a apresentar a sua releitura própria dos fatos e das necessidades em
questão e apontar para soluções mediadas em prol da construção de meios
estruturantes para o desenvolvimento humano.
Mas será que as perspectivas, escatológicas sobretudo, ajudam?
Considere-se o fato de que as sementes podem ser expelidas dos frutos ou flores que as conduzem e espargidas pelos ventos e se espalharem ao longo, distante dos caules de que se originam; os frutos, porém, caem naturalmente junto a estes e perto das árvores ou arbustos. E tais frutos não vingam quando o seu germe fecundo não é nutrido, e por semelhante modo, o protestantismo, ou o arremedo deste, quando “empreendido com desconhecimento de suas raízes” também tem o seu fruto malogrado. No dizer de Habacuque, o fruto da oliveira decepciona.
Logicamente, o protestantismo pode, e deveria, favorecer o desenvolvimento de certas virtudes, não necessariamente ausentes nos sistemas de pensamento que não compartilham da mesma herança. E o que resta de sensível influência a ser espargida a partir das experiencias pretéritas da sociedade decorrentes dos movimentos da Reforma?
O notável João Calvino cuja influência foi determinante no desenvolvimento do capitalismo, da democracia e até do socialismo.
É fato que para o insuspeito historiador católico-romano
Daniel-Rops (1901-1965)[7]
da Academia Francesa, poucos homens deixaram sobre a terra um rastro tão
profundo como o nosso pai espiritual, o reformador João Calvino. “Quem poderá
negar a sua grandeza?”, questiona o estudioso. Foi quando “semeou grandes ideias,
realizou grandes coisas e determinou grandes acontecimentos. A história não
teria sido tal como foi se ele não tivesse vivido, pensado e agido com a sua
vontade implacável”.
Daniel-Rops (1901-1965) |
Para além da contribuição de Calvino à formação da
identidade distintiva dos “calvinistas” nos milhões de cristãos que o seguem ainda
hoje, em seus ensinamentos imorredouros: reformados, presbiterianos,
congregacionalistas dentre outros, “talvez”,
diria o Acadêmico Francês, “não haja nenhum setor do protestantismo onde não se
possa encontrar alguma moeda do seu tesouro”. Ademais, “a sua influência foi determinante, até no desenvolvimento do
capitalismo, da democracia e do socialismo...”
João Calvino sobrou! |
“Calvino pertence incontestavelmente ao pequeníssimo grupo de mestres que, no decorrer dos séculos, moldaram com as suas mãos o destino do mundo”[8]. Equivale dizer que a democracia, capitalismo e socialismo são devedores à influência determinante, mais obviamente de Lutero[9], Calvino e outros que “moldaram” o próprio mundo contemporâneo com todo o seu avanço tecnológico extraordinário, espetacular, quase realmente sobrenatural.
Por outro aspecto, a sociedade mundana
açambarcadora se constrói segundo um modelo individualista, no que
reside o seu pecado original e o sistema de pensamento enraizado em origens calvinistas,
representa a “ameaça”, melhor dizendo um desafio, ao sobredito meio
social humano.
Ressalvada a possibilidade da indiferença da sociedade ante a proposta reformada, por incompreendida ou ignorada, ou por, segundo alguns, não trazer nada de novo, a “ameaça” existente apenas seria real caso auferirem-se os “frutos da Reforma”[10]: democracia funcional e o decorrente justo desenvolvimento social, cultural e econômico.
Nesse caso, o protestantismo parece frustrar, perder a “oportunidade”
de ser reconhecido, se for mesmo, como a saudável “ameaça” de transformação do estado
de coisas desfavorável ao estabelecimento da justiça inerente ao Reino, de que
nos informa o Evangelho.
Ao invés de cumprir seu desiderato, o protestantismo passa
a laborar no sentido de manter e perpetuar o estado de coisas, isso quando não fica
apenas delirando a imaginar o fictício reino de Deus vindouro físico-terreal, político,
milenário, ou sob a perspectiva (ou retrospectiva) da vida numa “era de ouro” isolada no presente ou condizente ao
futuro próximo, como o foi num passado, no que fora o “paraíso perdido”. Visões
e promessas várias e contraditórias umas com as outras, já apresentadas pelo
“catolicismo tradicional”, constantinista[11]
e medieval[12],
são retomadas, tanto como foram pelos movimentos de reforma radical, a saber, os
anabatismos e puritanismos de variegadas ramificações religiosas e políticas,
quanto pelos fundamentalismos e integrismos[13],
engajados politicamente, de faces nazifascistas mal disfarçadas.
A essência de coisas comparáveis, muitas vezes veiculadas
pelo discurso persuasivo e narrativo, tem como ponto de partida que os valores a
serem contrastados permanecem os mesmos então preconizados pelo “catolicismo tradicional” de um lado, com a proposta de
“hierarquia sagrada e vertical”, e d’outro, com
a Reforma e sua afirmação da autoridade única da Escritura Sagrada, de
que decorre a “vocação individual endereçada por Deus”, a cada crente, “à
liberdade que flui da liberação pessoal e da vida nova recebida na comunhão e
perdão de Cristo”.
Sobre a essência de coisas comparéveis. |
Disso frutifica a responsabilidade social, para além da
simples enunciação, por vezes apenas vazia, formalista, discricionária ou
casuísta, e, por vezes, desgraçadamente, hipócrita, perante o exercício do efetivo
sacerdócio universal na Igreja, base da concepção democrática
aplicada nela (Igreja) em primeiro lugar, e na Cidade (polis)
depois. Razão por que Biéler, cita o notável estadista reformado Marc Boegner
(1881-1970)[14]:
as liberdades intelectuais, sociais e política estão implicitamente
contidas na liberdade individual.
A democracia cruelmente golpeada e vilipendiada na igreja que se diz reformada, com a adesão irrestrita a extremistas ideologias políticas conspurcadoras.
Com perplexidade, e tristeza, obrigasse-nos a alusão à infiltração[15] de
ideologias que buscam tolher as liberdades individuais dos crentes
potencialmente influenciadas por aderentes
de alguma forma derivada de um redivivo “catolicismo tradicional”, sequer mais
em voga oficialmente na Igreja Católica Apostólica Romana. Dentre essas, figura
a ideologia que medra em redutos reformados com gente discutindo política,
assim na igreja como na polis, e para além desta, na politeia[16],
com receio de ao menos mencionar a palavra democracia, quanto mais defendê-la.
Ao invés disso, trai os valores da reforma defendendo abertamente a autocracia
e a ditadura, com o que nesta contém de torturas, assassinatos etc.
Tempos mal vividos nos desditosos lugares em que se desnuda
uma distraída igreja anacronicamente adolescida, e adoecida, viciada em juvenis
desfrutes das recompensas psíquicas advindas dos contumazes dribles aos
expedientes democráticos uteis à construção de produtiva representatividade, a
saber, os preceitos os mais comezinhos condizentes às práxis presbiterianas,
tão bem consagradas na Constituição Interna (CI) da IPB. Infelizmente, encontram-se
nela os mal acostumados, como sói aos “bons” conservadores de “maus costumes”[17],
aos desnaturados conciliábulos, que conjugam interesses políticos
pessoais e de grupos sociais, analógicos e digitais.
Conciliábulos, Dinheiro e Poder! |
Os frutos podres que vemos despencar de árvores merecedoras de boas podas nem de longe lembram os “frutos da Reforma”: receio e negação à democracia em lugar de sua corajosa, honesta afirmação; autoritarismo em lugar da autoridade; tradicionalismo de antigas “’novidades”, a contrariar as clássicas tradições democráticas; coerção em lugar de dissuasão e coação no lugar de persuasão; consagração da mediocracia em lugar da meritocracia. Tudo isso servido à guisa de falhas, distorções de fatos, fakenews e teorias conspiratórias engendradas em “seitas apostólicas” mais amoldadas à famigerada “hierarquia sagrada e vertical” do arremedado defunto “catolicismo tradicional” subsistente nos grupos neopentecostais, hegemônicos na igreja evangélica brasileira, do ponto de vista religioso, político e cultural.
O caroço desse malfadado fruto é o descompromisso com a
verdade substantiva e objetiva, factualmente confrontável, o comprometimento do
emocionalismo a guerrear com o
racionalismo. Ao sabor da estultícia denomina-se “guerra cultural”, o que perpetra
prejuízos tanto às emoções fincadas em afetações paranoicas, quanto às racionalidades
a permitir o exercício do ceticismo ignorante e acrítico (negacionismo). E o
pior, vacilam na criação de um ambiente de pugna ideológica confundida com arguição
da moralidade pessoal, com direito a toda afronta, insinuação, assédio moral e
espiritual, sem sentido, pois não se prestigia o diálogo compreensivo e
edificante entre pessoas que pensam de modo, em certos aspectos, divergente. Visa
apenas destruir, cancelar, isolar o perigo “comunista” ante mal disfarçados
medos, ressentimentos e recalques.
Não confie na horta de ervas daninhas! |
Ervas daninhas.
Vemos nos dias de hoje a igreja render-se a esse
instrumental do extremismo político de ideologia ultraconservadora subjacente às
greis fundamentalistas dispensacionalistas “tradicionais”, pentecostais e
neopentecostais, que desde os fins dos anos 1950 flerta com a ideologia
anticomunista da “guerra fria”[18] que
dialogara, e dialoga, com o milenarismo dispensacionalista[19],
vinculada, como se sabe, com a raiz comum no movimento puritano implantado nos
EUA no século XVII.
Agora tal extremismo surfa na “terceira onda de ameaça vermelha”[20],
red scare, ou lavender scare, mais uma vez, mais do que nunca, delirante.
Recrudesce-se em hostilidades de posições várias “irrenunciáveis” e “irreconciliáveis”,
dividindo os membros da família reformada, uns vinculados ao calvinismo deturpado
pelo neopuritanismo, e outros aos brotos ligados às raízes legitimas da Europa
continental e do nordeste dos EUA do protestantismo calvinista, de boa cepa, em
constante movimento de reforma.
Tal malograda situação seria impensável outrora na igreja,
nem a tanto tempo assim, moderada por lideranças de pessoas leais
confessionalmente, mas, mais preparadas, maduras e equilibradas, como tais as
figuras do Rev. Guilhermino Cunha, Rev. Wilson Souza Lopes[21] que
se juntavam a numerosas outras, dentre as quais a honrada do Rev. Roberto
Brasileiro da Silva, andorinha solitária num fim de primavera saudosa e início de
improvável verão inusitado.
Falemos de liderança desalentada, liderados conformados[22], à guisa de extremistas modulando pouco cordiais narrativas delirantes de toda sorte insinuantes de paranoicas suspeições a irmãos no exercício de suas plenas liberdades em Cristo. Guindam-se apenas inconfessáveis interesses escusos menores, políticos e partidários. Partidários sim, ainda que não de agremiações políticas subsistentes na forma da lei eleitoral, mas de ideologias, pessoas, líderes considerados “supremos” ou “máximos” carismáticos, messiânicos e populistas, de duvidosa qualidade moral e capacidade mental ou intelectual.
Oportuniza-se pensar no fator espiritual e teológico que influenciou o mundo no antes e no depois do advento das grandes democracias, ora ameaçadas por orquestrados rematados logros à boa-fé e à incauta inteligência dos símplices. Que cruel covardia!
Racine
lembra que a primeira parte do estudo de Biéler (Os Protestantes e o Advento
das Grandes Democracias) se dedica ao como
o Cristianismo reformado suscitou o surgimento, não da democracia no Ocidente,
que existia bem antes da Reforma, mas das grandes democracias modernas.
Os herdeiros da Reforma Calvinista se acham precisamente
na raiz da democracia, na origem das três grandes revoluções que moldaram o
mundo moderno, a revolução democrática ocidental, a primeira revolução
anticolonialista importante e, muito particularmente, a revolução industrial,
em que se acentua o papel do pensamento da reforma na transformação radical e
permanente da ordem social, dos hábitos, dos costumes, das mentalidades, das
estruturas econômicas e políticas das sociedades humanas.
A visão escatológica prevalecente no grupo político desejoso
de manter sua influência na igreja conspira contra a esperança de ver o
presente repetindo o passado, apesar de calcar demasiado, e sem propósito
claro, ou com propósito inglório, apenas na propaganda da moda, numa certa
“cosmovisão cristã”, ou “reformada”. Segundo alegam os propagandistas, a
cosmovisão favorece o induzimento do fundamentalismo que inspira o
dispensacionalismo, ou algo análogo[23].
O dispensacionalismo, em especial, aponta para a
consumação do propósito de Deus para a Sua criação – decaída, porém redimida -,
na segunda vinda “iminente” de Jesus. Tal evento referente ao fim dos tempos
ocorreria em, pelo menos, duas etapas iniciais: o 1) arrebatamento, rapto
repentino, secreto, dos “crentes especiais” e 2) o retorno de Jesus dos
céus com seus santos para o estabelecimento de um reinado messiânico físico,
político.
Trata-se de antiga fábula judaica travestida em utopia social
global, neo-nova ordem mundial - NeoNOM, de extrema-direita, em
substituição à velha, atual, “nova ordem mundial” – NOM – arguida curiosamente
de “esquerdista” imposta pelo Anticristo, de viés empresarial liberal e capitalista.
Tal “hegemonia “gramsciana”
espiritual, cultural e política, terreal, duraria exatos mil anos para só após
essa “farra for all and ever for ever”, vir-se o tão anunciado julgamento
final, a condenação dos ímpios e a salvação em glória dos eleitos – a separação
das ovelhas dos cabritos – da impoluta direita e da corrupta esquerda,
para assim começar o almejado estado eterno, a conclusão da iniciada consumação
dos séculos, afinal.
Nessa perspectiva, qual a esperança para o amanhã imediatamente seguido ao dia que chamamos hoje?
Controle da inflação, queda do preço da gasolina, a
continuidade de políticas públicas capazes de melhorar as condições de vida dos
mais pobres, a diminuição da injusta desigualdade de renda, e a pandemia e seus
efeitos deletérios posteriores?
|
Como combinar isso com o pagamento dos boletos e a
responsabilização dos, no mínimo, incompetentes alçados à condição de caçadores
de corruptos enquanto estes prodigalizam, ou prodigalizavam, pelo que têm dívidas
a pagar, GRU’s ou boletos da Justiça perante o erário, rachadinhas e
quejandas pilantragens?
Quer dizer que armam o caos e são acudidos pelo súbito rapto enquanto a bananosa fica com os otários “left-behinders”? Virou-se no que: na estorvada saga do Harry Porter?
Potter vs marxismo cultural. |
Tudo o que se promete é o governo provisório do Mechiá israelita na pessoa de um inepto falso ungido qualquer, incapaz de liderar o equacionamento ou a resolução de problemas prejulgados insolúveis pela insânia, tendentes de serem agravados caso fosse outro “salvador” que não tal e qual “escolhido” por Deus para os tão difíceis dias que antecedem o fim![24] A derrota como sina!
Como se vê, não há como conciliar as perspectivas quaisquer de apocalipticismo[25] [26]catastrófico[27] de influência gnóstica com a cosmovisão bíblica, de fato reformada, a menos que num “centrão” teológico em que as “convergências” são feitas apenas no tocante ao “consenso” em torno do “Marxismo Cultural”, “Q-Anon”, “Iluminati”, “Terra Plana”, “Movimento Antivaxx”, “Invasão Reptiliana”, “Ameaça Chinesa”, “Globalismo”, “Ideologia de Gênero”, “Foro de São Paulo”, “e o PT, hein?” e quejandos bichos papões.
Comunistas? Aonde??? |
A cosmovisão bíblica não se coaduna com o imponente
mercado de baboseiras da internet, tão ambicionado e aproveitado como meio
de vida ou de engrossar orçamentos de
muitos vivaldinos bit-icônicos. Tal mercado rendoso de likes,
inscrições, compartilhamentos e comentários monetizados elegeram a presidente
do Brasil uma pessoa medíocre, viciada em redes sociais, como nos EUA o estorvo
bilionário excêntrico e igualmente idiota Donald Trump. Não sem razão, lá como
aqui, os estropícios foram oficializados pelos mais notórios pastores, tele
evangelistas e demais crentes de reputação marcadamente libada por escândalos
de toda sorte[28],
mas principalmente financeiros, todos “conservadores cristãos” à moda trumpista,
alguns mantidos a soldo de verba pública, a sabor dos “gabinetes do ódio”.
No entanto, a cosmovisão bíblica nada tem a ver com baboseiras de rede social, e em nada contraria a
geográfica, muito provavelmente esposada pelo professor Racine, que se coaduna
com a geopolítica e política de Biéler, identificada como de “socialista cristão”.
A citação chegou |
A Reforma, todavia, não pode ser de algum modo portadora de mais adequada e abrangente esperança? Caso afirmativo, em que ela reside? “Não residiria”, questiona o Professor Racine, “exatamente, de certo modo, em que a Igreja possa ser sentinela, vanguardeira, sofredora e combatente capaz de compreender a natureza e os riscos de uma autêntica ética cristã, reportando-se ao Evangelho, como fonte permanente de renovação espiritual e política”?
Esta é a tese de Biéler: Sim! Vá ao passado em busca da luz
o que foi transformado pelo Evangelho e dos significados
que assumiu. Mantenha a cautela para não cair na armadilha do dogmatismo e dos
anacronismos, mas sem nada ocultar do que se julgue ser a contribuição e as
responsabilidades comuns ou respectivas dos cristãos de todas as confissões.
Nem tudo é negativo no puritanismo, nem se necessita
escolher o que de pior há no controvertido movimento, e em alguns de seus
degenerados herdeiros, como a se preferir a remela aos olhos. Pois até
justamente no puritanismo, em termos políticos, identifica-se o “fermento
democrático reformado”.
“Nascido na Europa, transportando-se depois de Plymouth
para New Plymouth, o ‘fermento democrático’ reformado chegará à América
onde, uma vez mais, nova interpretação da Palavra de Deus conduzirá a novas relações
entre os homens e a novo tipo de sociedade”. O “fermento” era ainda piririco demais
para desinibir toda a farinha de trigo enfarelada e pululada de encroados e
necrosados da massa das disfuncionalidades democráticas, inerentes à nascente democracia
liberal, que deveria ainda estar pronta para se ir se tornando mais e mais
liberal, até o equilíbrio, assim concebido, a ser conquistado para além do
advento das sociedades democráticas industriais, para cujo desenvolvimento a
Reforma havia também contribuído intensamente.
Então concerne ao interesse desse nosso estudo o que
Racine, em sua leitura de Biéler, traça a esperança como ato de fé: a igreja,
sentinela da democracia?
Professor Racine alude às ideologias como “crenças
secularizadas, impregnadas de esperanças ilusórias”, que pretendem de novo
repensar, e por nós, hoje como no tempo de seu aparecimento e cristalização, a
Eterna Palavra de Deus que ressoa nas Escrituras (a grande lição da Reforma).
Retome-se a perspectiva escatológica que agora, e doravante, impõe ao crente, como tal, a esperança como ato de fé, própria da condição do “artesão da paz”, prático de uma “cidadania ativa”, exercitando o direito à resistência, numa Igreja cujo membro “quer, ele crê ser, - em otimismo trágico à moda de Mounier, ou em pessimismo ativo à maneira de Rougemont[29] - teologicamente fundada como ‘sentinela da democracia’ num mundo certamente sempre ambivalente mas destinado ao Reino de Deus, única realidade última para a qual marcha o conjunto da humanidade e toda a criação”. Nada de deixar tudo por conta exclusiva do “Tapeceiro” cósmico. O Tapeceiro ainda não deu férias por tempo indeterminado aos “artesãos” que querem tomar para si tal empreitada.
Urge a empreitada da desmistificação que ultrapassa
largamente a encenação, mesmo que dinâmica do passado. Urge a adoção de método que
faça “irresistivelmente pensar na distinção, cara aos biólogos, entre fenótipos
e biótipos, aqueles mero reflexo e realização destes”.
Urge o estudo do papel atualizado dos protestantes no
desenvolvimento das sociedades modernas.
Urge passar no crivo “os enunciados tradicionais visando
ou enaltecer as influências do espírito reformado sobre o desenvolvimento do
capitalismo, ou denunciar o protestantismo como responsável por seus abusos
recolocando as duas perspectivas no contexto dos patrimônios históricos”.
Sem medo pois de sermos democráticos! Fuja de ambientes não
democráticos ou antidemocráticos! Faz-se
mister!
Uma questão de retorno e recurso às fontes: também e
sempre, o Evangelho no cerne do debate de hoje.
A seu modo, Biéler cria, como o fazemos hoje, fundamentalmente
no caráter imutável, independente do tempo, do que é revelado na Palavra de
Deus, autoridade suprema. Razão por que há “essa reivindicação, única, pelo retorno
ao patrimônio original, à Boa Nova, ao Evangelho” no que também é percebido
“como fonte permanente de renovação espiritual e política, incrustando em
nós uma atitude de contestação, antípoda do ópio do mundo, pela volta à
igualdade, à justiça, à simplicidade”.
Eis a bem compreendida perspectiva pejada de “ímpeto
regenerador” de que decorre o “liame entre renovação da religião e o novo
estatuto da sociedade”. Tal ímpeto pode ser cruelmente reprimido por “manifestações
populares e artísticas”, mas se mantém “fundado no princípio chave de
renascimento e de novo nascimento, e sob a condição de que a Palavra não seja
confiscada pelo poder”, o que pode ser mantido, nutrido. Racine observa “que
numerosíssimos católicos, ... estão dispostos a seguir o protestante nesta via,
e já o comentam, tanto na prática religiosa como nas homilias dominicais”.
Por isso, a consternação quando a igreja reformada no
Brasil vai a reboque dos entusiastas apocaliticistas renegando a fé
verdadeiramente reformada alinhando-se aos modernos fariseus e gnósticos
reincidentes.
O que fazer, portanto?
Questão de cosmovisão! Melhor para quem tem mais a receber do que pagar. |
Primeiramente, como os antigos diáconos das antigas
catedrais medievais, demarquemos na igreja o que for digno da continuidade da presença
de nossa herança, o ponto a partir do qual, em proteção dos que visam a igreja
como asilo dos ameaçados e despossuídos, e
informemos: “a partir daqui, incautos, vocês não hão de passar!”
Depois, preparem-se! Lembrem-se que essa rebordosa, da
eleição desses estropícios aqui e nos EUA, decorre da preparação dos “guerreiros
de escol” do exército para a “batalha espiritual” na “guerra cultural” sob
imaginação gedosistas, movimento G-12, do movimento de crescimento da igreja
inspirado no marketing de rede. Para os tais se renderam, mais uma vez, os
intrépidos bolsonaristas cristãos-reformados tremendo de medo do “marxismo cultural”
uma teoria da conspiração sucedânea da dotação dos “dentes de ouro”,
como sinal de bênção especial que “qualifica”
o desdentado para o exército de Deus! Evidência
de que se esmeraram em mesclar todas as baboseiras com a ideologia política
da extrema-direita nos ambientes reais, de concílios e corredores de igreja[30],
e virtuais, em redes de WhatsApp, assemelhados a currais do gado amestrado, por
vetustos boieiros fascistóides enquanto engordam suas contas em off-shores
de paraísos fiscais!
Mas todo esse movimento tende aos cansaços, às frustrações
afinais, históricas e contínuas, ainda que acalantados por movimento globais
que tem por fim (finalidade) um final anunciado que nunca chega. Chegam os golpes,
de toda sorte, até os bilionários, como
os impingidos por Steve Bannon. São golpistas, ou não são, os próceres que se
alinham aqui no Brasil com essa rede caterveriana de rematados pilantras
globais combatentes do globalismo?
O iminente golpe – isso sim - chegou, está na cara, cai
quem quer! É preciso nos preparar até moralmente para o enfrentamento dos dias
“pós-finais”. Eles virão, assim como virá, e é certa, a repentina segunda vida
de Jesus, um dia: no dia d’Ele para nos levar de uma vez por todas, e para
sempre, e para onde nos preparou!
E fica
ademais somente o aviso, estamos lidando com pessoas incapazes de
arrependimento para a vida, pois sequer nutrem objetivos de vida, somente de
morte, e sabemos do motivo por quê!
[1] não arrebatamento, ainda,
apesar deste estar em vista.
[2]
..., o controle social também é exercido a partir de métodos informais que não
necessitam ser explícitos e que às vezes têm muito mais força que os métodos
formais. Devemos destacar o controle social exercido pelas religiões, pelas
hierarquias sociais, pelos meios de comunicação e propaganda, normas morais e
outras. Todo este conjunto de normas de controle social informal causa no
indivíduo a aquisição de condutas socialmente aprovadas de maneira voluntária.
Muitas vezes, estas normas implícitas de controle social podem não ser éticas,
sobretudo quando se trata de propaganda e do poder de certas mensagens
publicitárias”. Autor. Editorial Que Conceito. São Paulo. - Disponível em:
https://queconceito.com.br/controle-social . Acesso em: 22/11/20211.
[3] laureado professor suíço
de geografia (Ph.D.) na Universidade de Lausanne, exímio em epistemologia,
igualmente versado em teologia e ciência política,
[4] La force cachée des protestants : chance ou menace pour
la société? : toute religion induit une politique;
toute politique cache une croyance, Genève, Labor et Fides, 1995, 269 p.
[5]
Em linha gerais, a direita cultiva valores que primam pela conservação desde o status
quo alcançado pelas forças progressistas, capaz de asseguram a manutenção
de instituições – conservadorismo – e almejam até a restauração de
modelos idealizados praticados imperfeitamente no passado, postura que
configura o extremo da reação, ou seja, o reacionarismo; a esquerda,
respeitando, ou não, os valores conservacionistas puros, primam pelos da renovação e o progresso partindo da
crítica à conservação tradicional até o extremo do progressivismo, ou
seja, o esquerdismo em contraposição ao direitismo; o centro é radicalmente
identificado com a estabilidade institucional presente sem preocupações com
idealizações distópicas do passado da direita ou com utópicas da esquerda.
Todos os partidos de quaisquer espectros tendem assumir posturas de centro-direita
e centro-esquerda, dentro do arcabouço democráticos que deixam de fora as forças reacionárias ou
progressistas que propugnam o governo autoritário, autocrático, em substituição
à democracia constitucional, republicana e liberal.
[6] Levitsky, Steven; Ziblatt,
Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018
[7]
Daniel-Rops (pseudônimo literário de Henri Petiot) nasceu em Épinal, em 1901, e
faleceu em Chambéry, em 1965. Foi professor de História e diretor da revista
Ecclesia (Paris), e tornou-se mundialmente famoso sobretudo pelas obras de
historiografia que publicou: a coleção História Sagrada, que abrange os volumes
O povo bíblico (1943), Jesus no seu tempo (1945) e os dez tornos desta História
da Igreja de Cristo (1948-65). Também foi autor de diversos ensaios, obras de
literatura infantil e romances históricos, entre os quais, Morte, onde está a
tua vitória? (1934) e A espada de fogo (1938). Foi eleito para a Academia
Francesa em 1955
[8]
Daniel-Rops - "História da Igreja" em 10 Volumes. Volume IV, "A História da Renascença e
da Reforma (1)", pg. 421, Ed. Quadrante - 1996.
[9]
Karl Marx (1818-1883) filósofo, ativista político alemão do Século XIX, um dos
fundadores do socialismo científico e da Sociologia. Sua obra influenciou a sociologia,
a economia, a história e a até a pedagogia. Marx reconheceu que “Lutero venceu
a servidão pela devoção, mas porque pôs no seu lugar a escravidão mediante a
convicção. Abalou a fé na autoridade porque restaurou a autoridade da fé.
Transformou os padres em leigos, mudando os leigos em padres. Libertou o homem
da religiosidade exterior, fazendo da religiosidade a essência mais intima do
homem. Libertou o corpo de seus grilhões porque com grilhões prendeu o
coração”. (Marx, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo, SP,
Boitempo Editorial, 2005, pag. 152).
[10]
O texto bíblico da Parábola da Figueira Estéril: “E dizia esta parábola: Um
certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela
fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho
procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a
terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até
que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará e, se não, depois a
mandarás cortar (Lucas 13:6-9).
[11] De Constantino - Flavius Valerius Aurelius Constantinus
(272-337), conhecido como Constantino I ou Constantino o Grande, foi imperador
do Império Romano do ano 306 a 337. Na História, passou como o primeiro
imperador cristão.
Era
filho de um oficial grego, Constâncio Cloro, que no ano 305 foi nomeado
Augusto, em vez de Galério, e de uma mulher que se tornou santa, Helena. Ao Morrer
Constâncio Cloro em 306, Constantino é aclamado imperador pelas tropas locais,
em meio a uma difícil situação política, agravada pelas tensões com o antigo
imperador Maximiano e seu filho Magêncio. Constantino derrotou primeiro
Maximiano em 310 e logo depois Magêncio, na batalha de Ponte Mílvio, em 28 de
outubro de 312. Uma tradição afirma que Constantino antes dessa batalha teve
uma visão. Olhando o sol, que era venerado pelos pagãos, viu uma cruz e ordenou
a seus soldados que pusessem nos escudos o monograma de Cristo (as duas
primeiras letras do nome grego sobrepostas). Embora continuasse praticando
ritos pagãos, desde essa vitória mostrou-se favorável aos cristãos. Sendo
Licínio o Imperador no oriente, promulgou o chamado “edito de Milão”
favorecendo a liberdade de culto. Mais tarde os dois imperadores se enfrentaram
e no ano 324 Constantino derrotou Licínio e se converteu no único Augusto do
império.
Constantino
levou a cabo numerosas reformas de tipo administrativo, militar e econômico,
porém destacou-se mais nas disposições político-religiosas, sobretudo nas que encaminhariam
a cristianização do império. Promoveu estruturas adequadas para conservar a
unidade da Igreja, preservar a unidade do estado e legitimar sua configuração
monárquica, sem excluir outras motivações religiosas de tipo pessoal. Ao lado
dessas disposições administrativas eclesiásticas, tomou medidas contra heresias
e cismas. Para defender a unidade da Igreja, lutou contra o cisma causado pelos
donatistas no norte da África e convocou o Concílio de Niceia para resolver a
controvérsia trinitária originada por Ário. Em 330 mudou a capital do império
de Roma para Bizâncio, que chamou Constantinopla, o que supôs uma ruptura com a
tradição, apesar de querer enfatizar o aspecto de capital cristã. Como então
ocorria com frequência, somente foi batizado pouco antes de morrer. Quem o
batizou foi Eusébio de Nicomédia, bispo de tendência ariana.
Entre
as falhas de seu mandato — comuns no tempo em que viveu — não se podem negar,
por exemplo, as referentes ao seu caráter caprichoso e violento; nem se pode
negar também que tenha dado liberdade à Igreja e favorecido a sua unidade. Mas
não é historicamente certo que, para consegui-lo, Constantino determinasse
entre outras coisas o número de livros que devia ter a Bíblia. Nesse extenso
processo que terminou muito mais tarde, os quatro evangelhos eram desde há
muito tempo os únicos que a Igreja reconhecia como verdadeiros. Os outros
“evangelhos” não foram suprimidos por Constantino, pois já tinham sido
proscritos como heréticos dezenas de anos antes.
[12]
Marcante na Idade Média, Carlos Magno (em latim: Carolus Magnus, alemão: Karl
der Große, francês: Charlemagne) (2 de abril de 742 – Aachen, 28 de janeiro de
814) foi Rei dos Lombardos a partir de 774 e Rei dos Francos começando em 768.
A denominação dinastia Carolíngia, que pelos sete séculos seguintes dominou a
Europa no que veio a ser posteriormente chamado Sacro Império Romano-Germânico
deriva do seu nome em latim "Carolus".
Por
meio das suas conquistas no estrangeiro e de suas reformas internas, Carlos
Magno ajudou a definir a Europa Ocidental e a Idade Média na Europa. Ele é
chamado de Carlos I nas listas reais da Alemanha (como Karl), na França (como
Charles) e do Sacro Império Romano-Germânico. Ele era filho do rei Pepino, o
Breve e de Berta de Laon, uma rainha franca. Carlos reinou primeiro em conjunto
com seu irmão Carlomano, sendo a relação entre os dois o tema de um caloroso
debate entre os cronistas contemporâneos e os historiadores. https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magno
[13] FOUILLOUX, Etiennen, SCHWEITZER, Louis e outros. Integrismo
catolico/O fundamentalismo protestante. In: ACAT. Fundamentalismos [e]
integrismos: uma ameaça aos direitos humanos. São Paulo: Paulinas, 2001.
[14]
https://en.wikipedia.org/wiki/Marc_Boegner0
[15] Objeto desse trabalho é
essa infiltração. Há outras, inclusive combatidas por elementos igualmente
infiltrados, assaz devoradores .
[16] Politeia (do grego
antigo: Πολιτεία ou Πολίτευμα, transl. Politeía ou Políteuma) era originalmente
um termo usado na Grécia Antiga para se referir às muitas cidades-estado
(pólis) que possuíam uma assembleia de cidadãos como parte de seu processo
político. https://pt.wikipedia.org/wiki/Politeia
[17] Liberais, somente na
economia. Na economia dos outros, pois quanto à própria são bem “regulados”.
[19] https://pt.wikipedia.org/wiki/Dispensacionalismo
[20] https://pt.wikipedia.org/wiki/Amea%C3%A7a_vermelha_nos_Estados_Unidos
[21] Apenas pontuando figuras
da contemporaneidade, o que dizer então das figuras do passado?
[22] A formação em Teologia e
em Ciências Econômicas e Sociais de Biéler, em
conjunto com sua carreira pastoral, capacitou-o a tentar responder a
questão: qual a nova ética social para a
nova sociedade que se instalará após o fim das hostilidades? Sua tese de
doutorado em ciências econômicas, intitulada “ O Pensamento Econômico e Social
de Calvino”, fornecer-lhe-ia as primeiras chaves de uma resposta elaborada, por
meio de numerosas obras, no decurso de mais de um quarto de século. Por
Racine.
[23] O dominionismo
pós-milênico, por exemplo, perigosa distração de despreparados estudantes da
reforma.
[24]
“Tenho conhecimento de tudo isso daí. Agora imagina se o presidente fosse
alguém do PT. Já tinha parado o Brasil já ». https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/15/interna_politica,855354/bolsonaro-imagina-se-o-presidente-fosse-do-pt-ja-tinha-parado-o-bra.shtml.Tal
declaração repetida várias vezes pelo presidente Bolsonaro é direcionada a seus
seguidores “desesperançosos” de que a situação possa melhorar para o conjunto do povo, mas apenas para os
que estão favorecidos por ele ocupando cargos no aparelho do Estado. Para estes
o que se espera é só altos salários, diárias polpudas, rendimentos extras,
gastos cobertos por cartão corporativo, benesses de DAS (Cargos de Direção e
Assessoramento Superior) e CNE (Cargos de Natureza Especial) percebidos nesses
tempos precedentes ao fim nos quais serão mantidos quando os seus ocupantes
passaram sete anos de férias remuneradas de festa das “bodas do cordeiro”, os
quais os aguardarão para o restante dos mil anos de governo da dinastia
davídica-bolsonariana. Oh, bendita esperança para estes! E para o restante dos
povos? E que destino cruel aguarda os homossexuais, prostitutas, bruxas... de
apedrejamentos, enforcamentos... e as manadas de bois dispostas pelo Ministério
da Pecuária para o sacrifício sacerdotal costumado restaurado?
Qual
o truque, Mister M? Isso está em sintonia com a interpretação malafaiana
de 2ª aos Tessalonicenses 2:3-10: “Ninguém de modo algum vos engane; porque o
dia não chegará sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem da
iniquidade, o filho da perdição, aquele que se opõe e se levanta contra tudo o
que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário
de Deus, ostentando-se como Deus. Não vos lembrais que eu vos dizia estas
coisas, quando ainda estava convosco? Agora sabeis aquilo que o detém,
a fim de que seja revelado a seu tempo. Pois o mistério
da iniquidade já opera; somente até que seja removido aquele que agora
o detém. Então será revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus
matará com o assopro da sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda. A
vinda desse ímpio é segundo a operação de Satanás com todo o poder, e com
sinais e com prodígios mentirosos e com toda a sedução da injustiça para
aqueles que perecem, porque não receberam o amor da verdade, a fim de serem
salvos”.
Preserva
“aquilo que o detêm” na base de DAS e CNE senão o PT volta! Portanto sem
exoneração dos crentes postados em postos políticos-chave, no lugar de gente
capaz, concursada, “o mistério da iniquidade já opera; somente até que seja
removido aquele que agora o detém”. Portanto, não o remova, senão o PT volta! O
comunismo reina! E fica pior! Com ele
vale a teologia e ciência política do Deputado Tiririca, do PL, do Centrão, “pior que está não fica”! Mas isso
não será inevitável e condição para o arrebatamento? Então arrebatamento não vem
enquanto não for oportuno e convenente? Crendo assim nesse truque, fica mole
para os “santos dos últimos dias”, para os “contínuos apocalípticos históricos
e futuristas”! Querem se perpetuar no poder adquirido messiânico redentivo e
estabelecer as suas dinastias monárquicas medievais remasterizadas com os seus
séquitos de nobres com mal disfarçadas boas guilhotinas anexadas aos seus
pescoços reais milenários! Pois querem ainda reinar, tripudiar, sobre a cabeça
de miseráveis espoliados! O que esses celerados têm acima dos pescoços, além
dos seios e sulcos da face, acima da testa, no interior do cérebro, se não
anencefálicos, sequer vale a decepada de um bom corte aço-inoxidável de uma bem
afiada guilhotina e os ameaçam os espoliados
e despossuídos da terra, todos nós
plebeus, com arminha! “Aquilo que o detêm?” A igreja e os políticos ladinos que
a explora em sua boa-fé são os estropícios, as “pedras drummondianas”, no
caminho do anticristo? Façam o favor: vão por mim, os nossos problemas de
Estado, reais e persistentes, com repercussões globais, não tem nada de 4D. Não
é de game o que se trata nesse lado do véu. Entendeu? Apenas isso!
[25] The Continuum History of Apocalypticism - authors: Bernard McGinn,
John J. Collins, John James Collins, Stephen Stein - A&C Black, 2003 - 672
páginas
[26] APOCALIPTICA (APOCALIPTICISMO).
Em grego, o termo apokaillypsis, simplesmente quer dizer "revelação"
e é nesse sentido que é empregado no Apocalipse de João que começa precisamente
com essas palavras: "Apocalipse ou revelação de Jesus Cristo..."
Contudo, precisamente devido ao uso particular desse livro o termo
“apocalíptico” dois usos na presente linguagem.
Primeiramente, em seu uso mais comum se refere a algo
catastrófico, como quando alguém se refere a uma “visão apocalíptica do desastre
econômico que se aproxima".
Contudo, mais especificamente no discurso teológico e
nos estudos bíblicos, o termo "apocalíptico" refere-se a certa
perspectiva particular e à literatura que a reflete. Nesse sentido, o
apocalipticismo parece ter surgido primeiramente na Pérsia, entre os
zoroastrianos, e passou dali para o judaísmo durante os tempos de exílio, por
último passou do judaísmo a certos setores do cristianismo primitivo. A
principal característica do apocalipticismo é uma visão dualista da História, e
a expectativa de que esse dualismo se resolverá em tempos escatológicos
iminentes, mediante a vitória do bem sobre o mal. Essa visão dualista da
História, na qual o princípio do bem se impõe ao princípio do mal, resultando
na divisão da humanidade entre aqueles — normalmente a maioria — que servem aos
poderes do mal, e que, portanto, gozam atualmente de poder e privilégios, e uma
minoria no presente oprimida e perseguida que posteriormente participará da
vitória final do bem, enquanto os maus seriam destruídos ou condenados ao
sofrimento eterno Dentro de tal
perspectiva não nos surpreende o fato de que o apocalipticismo em geral surge
entre aquelas minorias que se sentem oprimidas e perseguidas como os primeiros
cristãos do cristianismo ou anabatistas do século XVI.
Além dessa perspectiva fundamental, a literatura
apocalíptica mostra outros traços comuns. Afirma basear-se em visões, tende a
utilizar termos simbólicos, como bestas estranhas, numerologia abundante,
linguagem crítica que frequentemente só os que pertencem ao grupo podem
entender. Boa parte da literatura apocalíptica é pseudônima, pois pretende ter
sido escrita por alguma figura respeitada no passado. Tal é o caso do
Apocalipse de Abraão, o Apocalipse de Elias, o Apocalipse de Pedro etc. “Breve
Dicionário de Teologia”, Justo González – Editora Hagnos.
[27]
https://pt.wikipedia.org/wiki/Apocaliticismo
[28] Os “mitos” de que Deus
tem propósitos especiais para os “vasos
quebrados”, os “príncipes da Pérsia”, precisam ser tomados como tais,
explorados e desmascarados. Essa gororoba não tem base bíblica, ou tem?
[29] Seja lá o que isso possa significar em todo o seu preciosismo! Refere-se a pensamento de reformados, ou
cristãos, que assimilam tal “ímpeto renovador”.
[30] Remenber “conciábulos”,
or not?
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