2.3. DEMOCRACIA? POR QUE SIM? A IGREJA BALUARTE DA DEMOCRACIA E COMO SE TEM ENFRENTADO ESSE DESAFIO.

O Calvinismo e as Ideologias Autocráticas e Autoritárias

Introdução

No Ponto 1 desse trabalho, apresentei uma questão que a tempos me intriga, a qual não pode estar desligada de outras que se tem levantado nesse blog. 

Uma das quais, importante e ainda momentosa, segundo entendo, trata da contida no bojo da proposta de trabalhar a questão do "calvinismo defraudado" o qual se relaciona a da "liberdade de consciência".

Convida-se o ilustre transeunte a viajar pelo universo da questão disciplinar da igreja, frente a posturas políticas individuais consideradas desafiadoras, conquanto comuns à arena política. Ocorre que essas formas nem sempre costumeiras no ambiente religioso, revestem-se de expressões insinuantes e provocativas capazes de conduzir à reação por vezes intimidadora, por vezes retaliativa, ante a tentativa de condução do discurso para a zona de conflito, no campo das ideias, além da de conforto. Tais expressões ocorrem tanto por meio de afirmações fortuitas quanto por meio de respostas dadas a elocuções que expressam relações de poder espiritual e político, inerentes ao território da (in)tolerância.  

Sob a ótica sociológica, autoafirmados "por cima" tentam conduzir um rebanho (os "por debaixo", por assim dizer) que ritma os seus passos pelos senhos que expressam o contentamento com a adesão irrestrita ao posicionamento “oficial” do grupo, ou o descontentamento com as possíveis "deserções" e “descaminhos”, até doutrinários, o que viria a prejudicar o “arrebanhamento” compulsório[1] dos "santos", em sua maioria ou na totalidade para um determinado rumo "conservador cristão".

Nesse sentido, em sociologia aprende-se que todo o grupo social exerce determinados controles[2], normalmente impostos de cima para baixo pelos líderes (hierarquia social), prepostos ou participantes mais afinados com o “padrão” mais aceito pelo grupo. Implica em se questionar, ainda assim, e, portanto, a adequabilidade e abrangência desses padrões sociais a todos os campos dentre os quais os que envolvem exclusivamente a decisão pessoal.

Livre é quem decide por si todos os problemas surgidos ainda que para melhor condução deva alguns ser submetidos ao escrutínio do grupo. Há decisões pessoais, porém, que devem ser reservadas a esse escrutínio pessoal íntimo.

Nesse contexto tem-se a série de postagem, anterior, que tratava de:

I - A quem embarca - o calvinismo defraudado, consciências vilipendiadas. o calvinismo defraudado, consciências vilipendiadas. o seriado que trata da coação política e ideológica nas igrejas evangélicas.

E na sequência:

III. O chamamento exclusivo e a promessa da inclusão, o que nos sugere o texto de Mateus 11:26-30,

III. Do jugo suave dos incluídos e a Ignominiosa coação. Conciliando esse texto com os de Mateus 13:47-50 e Lucas 14:15-24; 

IV. Coação como falta disciplinar, mais no contexto de Igreja Presbiteriana do Brasil. 

Num alcance mais amplo:

V. O Calvinismo defraudado! 

VI. A saga dos títulos perdidos do Atlético-MG e a conspiração cruzeirense

VII. Apocalipcismos, milenarismos e os “judeus” alguém para pagar o pato

VIII. O marxismo cultural.

IX. Bolsonaro, o santo libertador do Brasil do marxismo cultural.

X. O dom da profetada e o da palavra da pseudociência.

XI. A doutrina da predestinação, liberdade de consciência e a inviolável reserva do coração.

XII. A salvação, saúde e sanidade espiritual e mental.

XIII.O fascismo insano.

XIV. A ameaça de canhões do Forte Orange.

XV. Em respeito à liberdade de consciência individual. 

XVI.A bendita pauta de costumes, matéria a ser discutida, que gera incidentes de coação.

Para não os submeter ao tédio, enjoo ou à exaustão, os amados ou amadas transeuntes podem apenas ler o último post ao qual foram atraídos (as), pois qualquer post tem conteúdo próprio e pretende que cada um surta o efeito que possa surtir em vista à reflexão. Clicam-se os link's indicados apenas quando a curiosidade ou o interesse o (a) atrair, o que será para esse escriba uma satisfação, maior ainda se da consulta resultar em algum proveito.

1. A Questão.

O calvinismo posterior a Calvino predispõe os seus adeptos à adesão a ideologias autocráticas e autoritárias, avessas à democracia republicana e liberal?

1.1. Jezabel Harris: a que ponto chegamos! Parte 1.

1.2. Jezabel Harris: a que ponto chegamos! Parte 2.

1.3. Partidarização política da fé: pecado contra a Igreja.

1.4. O autoritarismo e autocracia puritanas: herança mal afamada imposta aos calvinistas.

1.5. Horizontes da defesa da democracia no meio religioso.

1.6. Rallie do estado: políticas públicas, aborto, gênero e tantas coisas tão ou mais importantes.

1.7. Democracia? Por Que Não?

1.8. Republicanismo, Sim? Democracia, Não?

2. O Contexto Específico da Questão.

2.1. Antigas e novas forças políticas após a derrota da extrema-direita na segunda guerra mundial.

2.2. Polititização e Polarização no Brasil.

E, aqui vamos nós!!!

 2.3. Democracia? Por quesim? A Igreja vocacionada para ser baluarte da democracia e o que ela tem enfrentado.

Quando o fruto da oliveira decepciona.

Como se aventa em DEMOCRACIA? POR QUE NÃO? - Tópico 1.7, do presente estudo, é curioso ler na internet o manifesto político feito por notórios calvinistas “Acerca das Difamações e Demonstrações Públicas de Desprezo Contra os Cristãos”, 05/02/2020, Coalizão pelo Evangelho, lavrado cuidadosamente para “demonstrar” a ausência da simples  menção, ainda que desonrosa, à palavra “democracia”. Em face do que, sequer verifica-se a necessidade de professar publicamente alguma sensibilidade para a construção política democrática, motivo por que refletimos sobre o porquê de refugar assim a democracia.

Notório.

Perplexos de novo!

Como se disse, tal coisa destoa em muito de quaisquer outros manifestos políticos cristãos evangélicos cujos subscritores fariam questão de sublinhar o apreço pela democracia, sugerindo que as manifestações se vinculariam a um certo imaginário proveniente desde a democracia ateniense e que veio ressurgir a partir no mundo ocidental após, e por causa, da Reforma do Século XVI.

Por isso, discorre-se aqui sobre a democracia qualificada ou república representativa, a lembrar a polis ateniense a possibilitar a muitos sugerir que o republicanismo nega a democracia, vista como radical ou anárquica, conforme propugnado nos EUA, à época de independência de tal País, por alguns de seus “pais fundadores”, e que povoa o imaginário político norte-americano. A discussão mais aprofundada foi feita em 1.8. REPUBLICANISMO, SIM? DEMOCRACIA, NÃO?, enfocando os vínculos dessas concepções com o presbiterianismo, por ora, na sequência passa-se a refletir, aqui, DEMOCRACIA? POR QUE SIM? A IGREJA VOCACIONADA PARA SER BALUARTE DA DEMOCRACIA E O QUE ELA TEM ENFRENTADO.

Esperando o fruto da velha oliveira.

Os valores originais da Reforma não se restringem à direita, muito menos à extrema-direita. 

Os valores originais da Reforma não estão restritos a um dos espectros político-partidários, ideológicos, específicos, de direita, de esquerda ou de centro. Tais valores reformados podem embraçar os aderentes de quaisquer dessas orientações, reunidos em comunhão na igreja. Uma realidade presenciada até a bem pouco tempo antes da polarização surgida em face da radicalização produzida por reações a fatos noticiados, fakenews, teorias políticas conspiratórias.

A esse propósito, nos dias hoje, por motivações e despertamentos ideológicos diversos, bem ou mal induzidos, tem-se convidado os crentes ao engajamento político. Tem isso visado propiciar (ou não!) um ambiente de convivência democrática harmônica?     

A propósito, Jean-Bernard Racine[3] (1940-), prefaciador da obra do Pastor André Biéler[4](1914-2006), “A Força Oculta dos Protestantes”, publicado pela Editora Cultura Cristã, notou que a “face oculta” do protestantismo reformado tem sido capturada num nível acima da trivial “oposição entre valores” cultivados pelos espectros políticos “da direita, do centro e da esquerda”[5], posto que ancorada “nos valores originais da Reforma derivados da revelação cristã” e não nos postulados de ideologia seculares várias.

Tais valores originais confrontam-se com sérias, apesar de ligeiras, arguições de obsolescência, caducidade, inexpressividade, superfluidade e irrelevância, ou até mesmo de inocuidade, direcionadas ao pensamento distintivamente reformado. Essas impressivas, e impressionantes e, quem sabe, desconcertantes, arguições são disparadas quando em comparação com os níveis de adesão, em detrimento ao reformado, a sistemas de pensamento alternativos, abraçados por indivíduos distintos e numerosos grupos religiosos e políticos: neopentecostais, católicos e laicos (seculares), bem como os vinculados às demais religiões, crenças e descrenças, algumas a experimentar grande despertamento: hinduísmo, budismo e até mesmo as crenças de matriz africana, animistas.

É clamorosa, pois, a impressão leiga de que o pensamento político reformado não faz mais frente à concorrência, em suas vertentes religiosas ou irreligiosas (laicas ou seculares), sobretudo no contexto em que se sobrelevam questões gerais, por exemplo, a  ambiental (mudança climática) e a necessidade de enfrentamento dos problemas sociais e econômicos advindos da multiplicação e concentração de riquezas na indústria globalizada do conhecimento e na comercialização assimétrica de novos bens e serviços intangíveis, públicos e privados.

De fora, os aderentes do sistema reformado são vistos como confusos diante de “alegadas” questões éticas e morais graves de implicações transcendentais para as quais prescrevem soluções com base em intervenções sobrenaturais (divinas) na natureza ou no espaço público. Flagra-se a preocupação tão-somente com a abordagem que interessa internamente apenas ao grupo social religioso, cuja disciplina (eclesiástica) logicamente encontra-se desconectada com a função legislativa e jurisdicional do Estado. 

Soa ainda mais desairoso o sistema reformado quando os próprios aderentes informam tratar-se de algo que não se simpatiza com a democracia. Os aderentes pró-Trump e pró-Bolsonaro que pululam os círculos reformados no Brasil demonstram perfilamento entre os buscam matar a democracia apoiando políticos autoritários que renegam valores democráticos e buscam usar a própria democrática para acabar com ela por meio de medidas executivas de constitucionalidade duvidosa, sobre o que tratam Levitsky e Ziblatt[6]  em “Como as democracias morrem”. Então, os outros sistemas, mas principalmente o irreligioso-laico, parece levarem vantagem de dezenas de voltas, porquanto muito mais prestigiados, o que tem provocado angustioso ressentimento e não pouca frustração nos apreciadores do sistema reformado.

Apesar de todo o ora aventado, soa até pretencioso nessa quadra vivida, o Pastor Biéler ter-se proposto a questionar se o protestantismo representa ainda algo semelhante a uma oportunidade ou ameaça (?) à sociedade moderna.

Em grande medida, ao ver do Autor e de Racine, o protestantismo reformado ainda representa uma “oportunidade” de contribuição à sociedade no sentido de poder valer-se dele em face das demandas e desafios de hoje, tal como fora no passado.

Será isso verdade?

Fosse o caso, o protestantismo poderia entrar como um elemento novo, catalizador e rejuvenescedor capaz de arejar as estruturas sociais a apresentar a sua releitura própria dos fatos e das necessidades em questão e apontar para soluções mediadas em prol da construção de meios estruturantes para o desenvolvimento humano.

Mas será que as perspectivas, escatológicas sobretudo, ajudam?

Considere-se o fato de que as sementes podem ser expelidas dos frutos ou flores que as conduzem e espargidas pelos ventos e se espalharem ao longo, distante dos caules de que se originam; os frutos, porém, caem naturalmente junto a estes e perto das árvores ou arbustos. E tais frutos não vingam quando o seu germe fecundo não é nutrido, e por semelhante modo, o protestantismo, ou o arremedo deste, quando “empreendido com desconhecimento de suas raízes” também tem o seu fruto malogrado. No  dizer de Habacuque, o fruto da oliveira decepciona.   


Logicamente, 
o protestantismo pode, e deveria, favorecer o desenvolvimento de certas virtudes, não necessariamente ausentes nos sistemas de pensamento que não compartilham da mesma herança. E o que resta de sensível influência a ser espargida a partir das experiencias pretéritas da sociedade decorrentes dos movimentos da Reforma?

O notável João Calvino cuja influência foi determinante no desenvolvimento do capitalismo, da democracia e até do socialismo.

É fato que para o insuspeito historiador católico-romano Daniel-Rops (1901-1965)[7] da Academia Francesa, poucos homens deixaram sobre a terra um rastro tão profundo como o nosso pai espiritual, o reformador João Calvino. “Quem poderá negar a sua grandeza?”, questiona o estudioso. Foi quando “semeou grandes ideias, realizou grandes coisas e determinou grandes acontecimentos. A história não teria sido tal como foi se ele não tivesse vivido, pensado e agido com a sua vontade implacável”.

Daniel-Rops (1901-1965)

Para além da contribuição de Calvino à formação da identidade distintiva dos “calvinistas” nos milhões de cristãos que o seguem ainda hoje, em seus ensinamentos imorredouros: reformados, presbiterianos, congregacionalistas  dentre outros, “talvez”, diria o Acadêmico Francês, “não haja nenhum setor do protestantismo onde não se possa encontrar alguma moeda do seu tesouro”. Ademais, “a sua influência foi determinante, até no desenvolvimento do capitalismo, da democracia e do socialismo...”

João Calvino sobrou!

“Calvino pertence incontestavelmente ao pequeníssimo grupo de mestres que, no decorrer dos séculos, moldaram com as suas mãos o destino do mundo”[8]. Equivale dizer que a democracia, capitalismo e socialismo são devedores à influência determinante, mais obviamente de Lutero[9], Calvino e outros que “moldaram” o próprio mundo contemporâneo com todo o seu avanço tecnológico extraordinário, espetacular, quase realmente sobrenatural.

Por outro aspecto, a sociedade mundana açambarcadora se constrói segundo um modelo individualista, no que reside o seu pecado original e o sistema de pensamento enraizado em origens calvinistas, representa a “ameaça”, melhor dizendo um desafio, ao sobredito meio social humano.

Ressalvada a possibilidade da indiferença da sociedade ante a proposta reformada, por incompreendida ou ignorada, ou por, segundo alguns, não trazer nada de novo, a “ameaça” existente apenas seria real caso auferirem-se os “frutos da Reforma”[10]: democracia  funcional e o decorrente justo desenvolvimento social, cultural e econômico

Nesse caso, o protestantismo parece frustrar, perder a “oportunidade” de ser reconhecido, se for mesmo, como a saudável “ameaça” de transformação do estado de coisas desfavorável ao estabelecimento da justiça inerente ao Reino, de que nos informa o Evangelho.

Ao invés de cumprir seu desiderato, o protestantismo passa a laborar no sentido de manter e perpetuar o estado de coisas, isso quando não fica apenas delirando a imaginar o fictício reino de Deus vindouro físico-terreal, político, milenário, ou sob a perspectiva (ou retrospectiva) da vida numa “era  de ouro” isolada no presente ou condizente ao futuro próximo, como o foi num passado, no que fora o “paraíso perdido”. Visões e promessas várias e contraditórias umas com as outras, já apresentadas pelo “catolicismo tradicional”, constantinista[11] e medieval[12], são retomadas, tanto como foram pelos movimentos de reforma radical, a saber, os anabatismos e puritanismos de variegadas ramificações religiosas e políticas, quanto pelos fundamentalismos e integrismos[13], engajados politicamente, de faces nazifascistas mal disfarçadas.  

A essência de coisas comparáveis, muitas vezes veiculadas pelo discurso persuasivo e narrativo, tem como ponto de partida que os valores a serem contrastados permanecem os mesmos então preconizados pelo “catolicismo tradicional” de um lado, com a proposta de “hierarquia sagrada e vertical”, e d’outro, com a Reforma e sua afirmação da autoridade única da Escritura Sagrada, de que decorre a “vocação individual endereçada por Deus”, a cada crente, “à liberdade que flui da libera­ção pessoal e da vida nova recebida na comunhão e perdão de Cristo”.


Sobre a essência de coisas comparéveis.

Disso frutifica a responsabilidade social, para além da simples enunciação, por vezes apenas vazia, formalista, discricionária ou casuísta, e, por vezes, desgraçadamente, hipócrita, perante o exercício do efetivo sa­cerdócio universal na Igreja, base da concepção democrática aplicada nela (Igreja) em pri­meiro lugar, e na Cidade (polis) depois. Razão por que Biéler, cita o notável estadista reformado Marc Boegner (1881-1970)[14]: as liberdades intelectuais, sociais e políti­ca estão implicitamente contidas na liber­dade individual.

A democracia cruelmente golpeada e vilipendiada na igreja que se diz reformada, com a adesão irrestrita a extremistas ideologias políticas conspurcadoras.   

Com perplexidade, e tristeza, obrigasse-nos a alusão à infiltração[15] de ideologias que buscam tolher as liberdades individuais dos crentes potencialmente  influenciadas por aderentes de alguma forma derivada de um redivivo “catolicismo tradicional”, sequer mais em voga oficialmente na Igreja Católica Apostólica Romana. Dentre essas, figura a ideologia que medra em redutos reformados com gente discutindo política, assim na igreja como na polis, e para além desta, na politeia[16], com receio de ao menos mencionar a palavra democracia, quanto mais defendê-la. Ao invés disso, trai os valores da reforma defendendo abertamente a autocracia e a ditadura, com o que nesta contém de torturas, assassinatos etc.  

Tempos mal vividos nos desditosos lugares em que se desnuda uma distraída igreja anacronicamente adolescida, e adoecida, viciada em juvenis desfrutes das recompensas psíquicas advindas dos contumazes dribles aos expedientes democráticos uteis à construção de produtiva representatividade, a saber, os preceitos os mais comezinhos condizentes às práxis presbiterianas, tão bem consagradas na Constituição Interna (CI) da IPB. Infelizmente, encontram-se nela os mal acostumados, como sói aos “bons” conservadores de “maus costumes”[17], aos desnaturados conciliábulos, que conjugam interesses políticos pessoais e de grupos sociais, analógicos e digitais.   


Conciliábulos, Dinheiro e Poder!

Os frutos podres que vemos despencar de árvores merecedoras de boas podas nem de longe lembram os “frutos da Reforma”: receio e negação à democracia em lugar de sua corajosa, honesta afirmação; autoritarismo em lugar da autoridade; tradicionalismo de antigas “’novidades”, a contrariar as clássicas tradições democráticas; coerção em lugar de dissuasão e coação no lugar de persuasão; consagração da mediocracia em lugar da meritocracia. Tudo isso servido à guisa de falhas, distorções de fatos,  fakenews e teorias conspiratórias engendradas em “seitas apostólicas” mais amoldadas à famigerada “hierarquia sagrada e vertical” do arremedado defunto “catolicismo tradicional” subsistente nos grupos neopentecostais, hegemônicos na igreja evangélica brasileira, do ponto de vista religioso, político e cultural.

O caroço desse malfadado fruto é o descompromisso com a verdade substantiva e objetiva, factualmente confrontável, o comprometimento do emocionalismo a guerrear  com o racionalismo. Ao sabor da estultícia denomina-se “guerra cultural”, o que perpetra prejuízos tanto às emoções fincadas em afetações paranoicas, quanto às racionalidades a permitir o exercício do ceticismo ignorante e acrítico (negacionismo). E o pior, vacilam na criação de um ambiente de pugna ideológica confundida com arguição da moralidade pessoal, com direito a toda afronta, insinuação, assédio moral e espiritual, sem sentido, pois não se prestigia o diálogo compreensivo e edificante entre pessoas que pensam de modo, em certos aspectos, divergente. Visa apenas destruir, cancelar, isolar o perigo “comunista” ante mal disfarçados medos, ressentimentos e recalques.

Não confie na horta de ervas daninhas!

Ervas daninhas.  

Vemos nos dias de hoje a igreja render-se a esse instrumental do extremismo político de ideologia ultraconservadora subjacente às greis fundamentalistas dispensacionalistas “tradicionais”, pentecostais e neopentecostais, que desde os fins dos anos 1950 flerta com a ideologia anticomunista da “guerra fria”[18] que dialogara, e dialoga, com o milenarismo dispensacionalista[19], vinculada, como se sabe, com a raiz comum no movimento puritano implantado nos EUA no século XVII.

Agora tal extremismo surfa na “terceira onda de ameaça vermelha”[20], red scare, ou lavender scare, mais uma vez, mais do que nunca, delirante. Recrudesce-se em hostilidades de posições várias “irrenunciáveis” e “irreconciliáveis”, dividindo os membros da família reformada, uns vinculados ao calvinismo deturpado pelo neopuritanismo, e outros aos brotos ligados às raízes legitimas da Europa continental e do nordeste dos EUA do protestantismo calvinista, de boa cepa, em constante movimento de reforma.

Tal malograda situação seria impensável outrora na igreja, nem a tanto tempo assim, moderada por lideranças de pessoas leais confessionalmente, mas, mais preparadas, maduras e equilibradas, como tais as figuras do Rev. Guilhermino Cunha, Rev. Wilson Souza Lopes[21] que se juntavam a numerosas outras, dentre as quais a honrada do Rev. Roberto Brasileiro da Silva, andorinha solitária num fim de primavera saudosa e início de improvável verão inusitado.

Falemos de liderança desalentada, liderados conformados[22], à guisa de extremistas modulando pouco cordiais narrativas delirantes de toda sorte insinuantes de paranoicas suspeições a irmãos no exercício de suas plenas liberdades em Cristo. Guindam-se apenas inconfessáveis interesses escusos menores, políticos e partidários. Partidários sim, ainda que não de agremiações políticas subsistentes na forma da lei eleitoral, mas de ideologias, pessoas, líderes considerados “supremos” ou “máximos” carismáticos, messiânicos e populistas, de duvidosa qualidade moral e capacidade mental ou intelectual.

Oportuniza-se pensar no fator espiritual e teológico que influenciou o mundo no antes e no  depois do advento das grandes democracias, ora ameaçadas por orquestrados rematados logros à boa-fé e à incauta inteligência dos símplices. Que cruel covardia!

Racine lembra que a primeira parte do estudo de Biéler (Os Protestantes e o Advento das Grandes Democracias) se dedica ao como o Cristianismo reformado suscitou o surgimento, não da democracia no Ocidente, que existia bem antes da Reforma, mas das grandes democracias modernas.

Os herdeiros da Reforma Calvinista se acham precisamente na raiz da democracia, na origem das três grandes revoluções que moldaram o mundo moderno, a revolução democrática ocidental, a primeira revolução anticolonialista importante e, muito particularmente, a revolução industrial, em que se acentua o papel do pensamento da reforma na transformação radical e permanente da ordem social, dos hábitos, dos costumes, das mentalidades, das estruturas econômicas e políticas das sociedades humanas.

A visão escatológica prevalecente no grupo político desejoso de manter sua influência na igreja conspira contra a esperança de ver o presente repetindo o passado, apesar de calcar demasiado, e sem propósito claro, ou com propósito inglório, apenas na propaganda da moda, numa certa “cosmovisão cristã”, ou “reformada”. Segundo alegam os propagandistas, a cosmovisão favorece o induzimento do fundamentalismo que inspira o dispensacionalismo, ou algo análogo[23].

O dispensacionalismo, em especial, aponta para a consumação do propósito de Deus para a Sua criação – decaída, porém redimida -, na segunda vinda “iminente” de Jesus. Tal evento referente ao fim dos tempos ocorreria em, pelo menos, duas etapas iniciais: o 1) arrebatamento, rapto repentino, secreto, dos “crentes especiais” e 2) o retorno de Jesus dos céus com seus santos para o estabelecimento de um reinado messiânico físico, político.

Trata-se de antiga fábula judaica travestida em utopia social global, neo-nova ordem mundial - NeoNOM, de extrema-direita, em substituição à velha, atual, “nova ordem mundial” – NOM – arguida curiosamente de “esquerdista” imposta pelo Anticristo, de viés empresarial liberal e capitalista. Tal “hegemonia “gramsciana” espiritual, cultural e política, terreal, duraria exatos mil anos para só após essa “farra for all and ever for ever”, vir-se o tão anunciado julgamento final, a condenação dos ímpios e a salvação em glória dos eleitos – a separação das ovelhas dos cabritos – da impoluta direita e da corrupta esquerda, para assim começar o almejado estado eterno, a conclusão da iniciada consumação dos séculos, afinal.

Nessa perspectiva, qual a esperança para o amanhã imediatamente seguido ao dia que chamamos hoje?

Controle da inflação, queda do preço da gasolina, a continuidade de políticas públicas capazes de melhorar as condições de vida dos mais pobres, a diminuição da injusta desigualdade de renda, e a pandemia e seus efeitos deletérios posteriores?

Dívida no cartório chega antes do arrebatamento. E agora?

Como combinar isso com o pagamento dos boletos e a responsabilização dos, no mínimo, incompetentes alçados à condição de caçadores de corruptos enquanto estes prodigalizam, ou prodigalizavam, pelo que têm dívidas a pagar, GRU’s ou boletos da Justiça perante o erário, rachadinhas e quejandas pilantragens?

Quer dizer que armam o caos e são acudidos pelo súbito rapto enquanto a bananosa fica com os otários “left-behinders”? Virou-se no que: na estorvada saga do Harry Porter?

Potter vs marxismo cultural.

Tudo o que se promete é o governo provisório do Mechiá israelita na pessoa de um inepto falso ungido qualquer, incapaz de liderar o equacionamento ou a resolução de problemas prejulgados insolúveis pela insânia, tendentes de serem agravados caso fosse outro “salvador” que não tal e qual “escolhido” por Deus para os tão difíceis dias que antecedem o fim![24] A derrota como sina!

Como se vê, não há como conciliar as perspectivas quaisquer de apocalipticismo[25] [26]catastrófico[27] de influência gnóstica com a cosmovisão bíblica, de fato reformada, a menos que num “centrão” teológico em que as “convergências” são feitas apenas no tocante ao “consenso” em torno do “Marxismo Cultural”, “Q-Anon”, “Iluminati”, “Terra Plana”, “Movimento Antivaxx”, “Invasão Reptiliana”, “Ameaça Chinesa”, “Globalismo”,  “Ideologia de Gênero”, “Foro de São Paulo”, “e o PT, hein?” e quejandos bichos papões. 

Comunistas? Aonde???

A cosmovisão bíblica não se coaduna com o imponente mercado de baboseiras da internet, tão ambicionado e aproveitado como meio de vida ou de engrossar  orçamentos de muitos vivaldinos bit-icônicos. Tal mercado rendoso de likes, inscrições, compartilhamentos e comentários monetizados elegeram a presidente do Brasil uma pessoa medíocre, viciada em redes sociais, como nos EUA o estorvo bilionário excêntrico e igualmente idiota Donald Trump. Não sem razão, lá como aqui, os estropícios foram oficializados pelos mais notórios pastores, tele evangelistas e demais crentes de reputação marcadamente libada por escândalos de toda sorte[28], mas principalmente financeiros, todos “conservadores cristãos” à moda trumpista, alguns mantidos a soldo de verba pública, a sabor dos “gabinetes do ódio”.

No entanto, a cosmovisão bíblica nada tem a ver com baboseiras  de rede social, e em nada contraria a geográfica, muito provavelmente esposada pelo professor Racine, que se coaduna com a geopolítica e política de Biéler, identificada como de “socialista cristão”.

A citação chegou

A Reforma, todavia, não pode ser de algum modo portadora de mais adequada e abrangente esperança? Caso afirmativo, em que ela reside? “Não residiria”, questiona o Professor Racine, “exatamente, de certo modo, em que a Igreja possa ser sentinela, vanguardeira, sofredora e combatente capaz de compreender a natureza e os riscos de uma autêntica ética cristã, reportando-se ao Evangelho, como fonte permanente de renovação espiritual e política”?

Esta é a tese de Biéler: Sim! Vá ao passado em busca da luz o que foi   transformado pelo Evangelho e dos significados que assumiu. Mantenha a cautela para não cair na armadilha do dogmatismo e dos anacronismos, mas sem nada ocultar do que se julgue ser a contribuição e as responsabilidades comuns ou respectivas dos cristãos de todas as confissões.

Nem tudo é negativo no puritanismo, nem se necessita escolher o que de pior há no controvertido movimento, e em alguns de seus degenerados herdeiros, como a se preferir a remela aos olhos. Pois até justamente no puritanismo, em termos políticos, identifica-se o “fermento democrático reformado”.

“Nascido na Europa, transportando-se depois de Plymouth para New Plymouth, o ‘fermento democrático’ reformado chegará à América onde, uma vez mais, nova interpretação da Palavra de Deus conduzirá a novas relações entre os homens e a novo tipo de sociedade”. O “fermento” era ainda piririco demais para desinibir toda a farinha de trigo enfarelada e pululada de encroados e necrosados da massa das disfuncionalidades democráticas, inerentes à nascente democracia liberal, que deveria ainda estar pronta para se ir se tornando mais e mais liberal, até o equilí­brio, assim concebido, a ser conquistado para além do advento das sociedades democráticas industriais, para cujo desenvolvimento a Reforma havia também contribuído intensamente.

Então concerne ao interesse desse nosso estudo o que Racine, em sua leitura de Biéler, traça a esperança como ato de fé: a igreja, sentinela da democracia?

Professor Racine alude às ideologias como “crenças secularizadas, impregnadas de esperanças ilusórias”, que pretendem de novo repensar, e por nós, hoje como no tempo de seu aparecimento e cristalização, a Eterna Palavra de Deus que ressoa nas Escrituras (a grande lição da Reforma).

Retome-se a perspectiva escatológica que agora, e doravante, impõe ao crente, como tal, a esperança como ato de fé, própria da condição do “artesão da paz”, prático de uma “cidadania ativa”, exercitando o direito à resistência, numa Igreja cujo membro “quer, ele crê ser, - em otimismo trágico à moda de Mounier, ou em pessimismo ativo à maneira de Rougemont[29] - teologicamente fundada como ‘sentinela da democracia’ num mundo certamente sempre ambivalente mas destinado ao Reino de Deus, única realidade última para a qual marcha o conjunto da humanidade e toda a criação”. Nada de deixar tudo por conta exclusiva do “Tapeceiro” cósmico. O Tapeceiro ainda não deu férias por tempo indeterminado aos “artesãos” que querem tomar para si tal empreitada.

Urge a empreitada da desmistificação que ultrapassa largamente a encenação, mesmo que dinâmica do passado. Urge a adoção de método que faça “irresistivelmente pensar na distinção, cara aos biólogos, entre fenótipos e biótipos, aqueles mero reflexo e realização destes”.

Urge o estudo do papel atualizado dos protestantes no desenvolvimento das sociedades modernas.

Urge passar no crivo “os enunciados tradicionais visando ou enaltecer as influências do espírito reformado sobre o desenvolvimento do capitalismo, ou denunciar o protestantismo como responsável por seus abusos recolocando as duas perspectivas no contexto dos patrimônios históricos”.

Sem medo pois de sermos democráticos! Fuja de ambientes não democráticos  ou antidemocráticos! Faz-se mister!

Uma questão de retorno e recurso às fontes: também e sempre, o Evangelho no cerne do debate de hoje.

A seu modo, Biéler cria, como o fazemos hoje, fundamentalmente no caráter imutável, independente do tempo, do que é revelado na Palavra de Deus, autoridade suprema. Razão por que há “essa reivindicação, única, pelo retorno ao patrimônio original, à Boa Nova, ao Evangelho” no que também é percebido “como fonte permanente de renovação espiritual e política, incrustando em nós uma atitude de contestação, antípoda do ópio do mundo, pela volta à igualdade, à justiça, à simplicidade”.

Eis a bem compreendida perspectiva pejada de “ímpeto regenerador” de que decorre o “liame entre renovação da religião e o novo estatuto da sociedade”. Tal ímpeto pode ser cruelmente reprimido por “manifestações populares e artísticas”, mas se mantém “fundado no princípio chave de renascimento e de novo nascimento, e sob a condição de que a Palavra não seja confiscada pelo poder”, o que pode ser mantido, nutrido. Racine observa “que numerosíssimos católicos, ... estão dispostos a seguir o protestante nesta via, e já o comentam, tanto na prática religiosa como nas homilias dominicais”.

Por isso, a consternação quando a igreja reformada no Brasil vai a reboque dos entusiastas apocaliticistas renegando a fé verdadeiramente reformada alinhando-se aos modernos fariseus e gnósticos reincidentes.

O  que fazer, portanto?

Questão de cosmovisão! Melhor para quem tem mais a receber do que pagar.

Primeiramente, como os antigos diáconos das antigas catedrais medievais, demarquemos na igreja o que for digno da continuidade da presença de nossa herança, o ponto a partir do qual, em proteção dos que visam a igreja como asilo dos ameaçados e despossuídos, e  informemos: “a partir daqui, incautos, vocês não hão de passar!”

Depois, preparem-se! Lembrem-se que essa rebordosa, da eleição desses estropícios aqui e nos EUA, decorre da preparação dos “guerreiros de escol” do exército para a “batalha espiritual” na “guerra cultural” sob imaginação gedosistas, movimento G-12, do movimento de crescimento da igreja inspirado no marketing de rede. Para os tais se renderam, mais uma vez, os intrépidos bolsonaristas cristãos-reformados tremendo de medo do “marxismo cultural” uma teoria da conspiração sucedânea da dotação dos “dentes de ouro”, como  sinal de bênção especial que “qualifica” o desdentado para o exército de Deus! Evidência de que se esmeraram em mesclar todas as baboseiras com a ideologia política da extrema-direita nos ambientes reais, de concílios e corredores de igreja[30], e virtuais, em redes de WhatsApp, assemelhados a currais do gado amestrado, por vetustos boieiros fascistóides enquanto engordam suas contas em off-shores de paraísos fiscais!

Mas todo esse movimento tende aos cansaços, às frustrações afinais, históricas e contínuas, ainda que acalantados por movimento globais que tem por fim (finalidade) um final anunciado que nunca chega. Chegam os golpes, de toda sorte,  até os bilionários, como os impingidos por Steve Bannon. São golpistas, ou não são, os próceres que se alinham aqui no Brasil com essa rede caterveriana de rematados pilantras globais combatentes do globalismo?

O iminente golpe – isso sim - chegou, está na cara, cai quem quer! É preciso nos preparar até moralmente para o enfrentamento dos dias “pós-finais”. Eles virão, assim como virá, e é certa, a repentina segunda vida de Jesus, um dia: no dia d’Ele para nos levar de uma vez por todas, e para sempre, e para onde nos preparou!

E fica ademais somente o aviso, estamos lidando com pessoas incapazes de arrependimento para a vida, pois sequer nutrem objetivos de vida, somente de morte, e sabemos do motivo por quê!     

[1] não arrebatamento, ainda, apesar deste estar em vista.

[2] ..., o controle social também é exercido a partir de métodos informais que não necessitam ser explícitos e que às vezes têm muito mais força que os métodos formais. Devemos destacar o controle social exercido pelas religiões, pelas hierarquias sociais, pelos meios de comunicação e propaganda, normas morais e outras. Todo este conjunto de normas de controle social informal causa no indivíduo a aquisição de condutas socialmente aprovadas de maneira voluntária. Muitas vezes, estas normas implícitas de controle social podem não ser éticas, sobretudo quando se trata de propaganda e do poder de certas mensagens publicitárias”. Autor. Editorial Que Conceito. São Paulo. - Disponível em: https://queconceito.com.br/controle-social . Acesso em: 22/11/20211.

[3] laureado professor suíço de geografia (Ph.D.) na Universidade de Lausanne, exímio em epistemologia, igualmente versado em teologia e ciência política,

[4] La force cachée des protestants : chance ou menace pour la société? : toute religion induit une politique; toute politique cache une croyance, Genève, Labor et Fides, 1995, 269 p.

[5] Em linha gerais, a direita cultiva valores que primam pela conservação desde o status quo alcançado pelas forças progressistas, capaz de asseguram a manutenção de instituições – conservadorismo – e almejam até a restauração de modelos idealizados praticados imperfeitamente no passado, postura que configura o extremo da reação, ou seja, o reacionarismo; a esquerda, respeitando, ou não, os valores conservacionistas puros, primam  pelos da renovação e o progresso partindo da crítica à conservação tradicional até o extremo do progressivismo, ou seja, o esquerdismo em contraposição ao direitismo; o centro é radicalmente identificado com a estabilidade institucional presente sem preocupações com idealizações distópicas do passado da direita ou com utópicas da esquerda. Todos os partidos de quaisquer espectros tendem assumir posturas de centro-direita e centro-esquerda, dentro do arcabouço democráticos  que deixam de fora as forças reacionárias ou progressistas que propugnam o governo autoritário, autocrático, em substituição à democracia constitucional, republicana e liberal.                    

[6] Levitsky, Steven; Ziblatt, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018

[7] Daniel-Rops (pseudônimo literário de Henri Petiot) nasceu em Épinal, em 1901, e faleceu em Chambéry, em 1965. Foi professor de História e diretor da revista Ecclesia (Paris), e tornou-se mundialmente famoso sobretudo pelas obras de historiografia que publicou: a coleção História Sagrada, que abrange os volumes O povo bíblico (1943), Jesus no seu tempo (1945) e os dez tornos desta História da Igreja de Cristo (1948-65). Também foi autor de diversos ensaios, obras de literatura infantil e romances históricos, entre os quais, Morte, onde está a tua vitória? (1934) e A espada de fogo (1938). Foi eleito para a Academia Francesa em 1955

[8] Daniel-Rops - "História da Igreja" em 10 Volumes.  Volume IV, "A História da Renascença e da Reforma (1)", pg. 421, Ed. Quadrante - 1996.

[9] Karl Marx (1818-1883) filósofo, ativista político alemão do Século XIX, um dos fundadores do socialismo científico e da Sociologia. Sua obra influenciou a sociologia, a economia, a história e a até a pedagogia. Marx reconheceu que “Lutero venceu a servidão pela devoção, mas porque pôs no seu lugar a escravidão mediante a convicção. Abalou a fé na autoridade porque restaurou a autoridade da fé. Transformou os padres em leigos, mudando os leigos em padres. Libertou o homem da religiosidade exterior, fazendo da religiosidade a essência mais intima do homem. Libertou o corpo de seus grilhões porque com grilhões prendeu o coração”. (Marx, Karl. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo, SP, Boitempo Editorial, 2005, pag. 152).

[10] O texto bíblico da Parábola da Figueira Estéril: “E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar (Lucas 13:6-9).

[11] De Constantino  - Flavius Valerius Aurelius Constantinus (272-337), conhecido como Constantino I ou Constantino o Grande, foi imperador do Império Romano do ano 306 a 337. Na História, passou como o primeiro imperador cristão.

Era filho de um oficial grego, Constâncio Cloro, que no ano 305 foi nomeado Augusto, em vez de Galério, e de uma mulher que se tornou santa, Helena. Ao Morrer Constâncio Cloro em 306, Constantino é aclamado imperador pelas tropas locais, em meio a uma difícil situação política, agravada pelas tensões com o antigo imperador Maximiano e seu filho Magêncio. Constantino derrotou primeiro Maximiano em 310 e logo depois Magêncio, na batalha de Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312. Uma tradição afirma que Constantino antes dessa batalha teve uma visão. Olhando o sol, que era venerado pelos pagãos, viu uma cruz e ordenou a seus soldados que pusessem nos escudos o monograma de Cristo (as duas primeiras letras do nome grego sobrepostas). Embora continuasse praticando ritos pagãos, desde essa vitória mostrou-se favorável aos cristãos. Sendo Licínio o Imperador no oriente, promulgou o chamado “edito de Milão” favorecendo a liberdade de culto. Mais tarde os dois imperadores se enfrentaram e no ano 324 Constantino derrotou Licínio e se converteu no único Augusto do império.

Constantino levou a cabo numerosas reformas de tipo administrativo, militar e econômico, porém destacou-se mais nas disposições político-religiosas, sobretudo nas que encaminhariam a cristianização do império. Promoveu estruturas adequadas para conservar a unidade da Igreja, preservar a unidade do estado e legitimar sua configuração monárquica, sem excluir outras motivações religiosas de tipo pessoal. Ao lado dessas disposições administrativas eclesiásticas, tomou medidas contra heresias e cismas. Para defender a unidade da Igreja, lutou contra o cisma causado pelos donatistas no norte da África e convocou o Concílio de Niceia para resolver a controvérsia trinitária originada por Ário. Em 330 mudou a capital do império de Roma para Bizâncio, que chamou Constantinopla, o que supôs uma ruptura com a tradição, apesar de querer enfatizar o aspecto de capital cristã. Como então ocorria com frequência, somente foi batizado pouco antes de morrer. Quem o batizou foi Eusébio de Nicomédia, bispo de tendência ariana.

Entre as falhas de seu mandato — comuns no tempo em que viveu — não se podem negar, por exemplo, as referentes ao seu caráter caprichoso e violento; nem se pode negar também que tenha dado liberdade à Igreja e favorecido a sua unidade. Mas não é historicamente certo que, para consegui-lo, Constantino determinasse entre outras coisas o número de livros que devia ter a Bíblia. Nesse extenso processo que terminou muito mais tarde, os quatro evangelhos eram desde há muito tempo os únicos que a Igreja reconhecia como verdadeiros. Os outros “evangelhos” não foram suprimidos por Constantino, pois já tinham sido proscritos como heréticos dezenas de anos antes.

[12] Marcante na Idade Média, Carlos Magno (em latim: Carolus Magnus, alemão: Karl der Große, francês: Charlemagne) (2 de abril de 742 – Aachen, 28 de janeiro de 814) foi Rei dos Lombardos a partir de 774 e Rei dos Francos começando em 768. A denominação dinastia Carolíngia, que pelos sete séculos seguintes dominou a Europa no que veio a ser posteriormente chamado Sacro Império Romano-Germânico deriva do seu nome em latim "Carolus".

Por meio das suas conquistas no estrangeiro e de suas reformas internas, Carlos Magno ajudou a definir a Europa Ocidental e a Idade Média na Europa. Ele é chamado de Carlos I nas listas reais da Alemanha (como Karl), na França (como Charles) e do Sacro Império Romano-Germânico. Ele era filho do rei Pepino, o Breve e de Berta de Laon, uma rainha franca. Carlos reinou primeiro em conjunto com seu irmão Carlomano, sendo a relação entre os dois o tema de um caloroso debate entre os cronistas contemporâneos e os historiadores. https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magno

[13] FOUILLOUX, Etiennen, SCHWEITZER, Louis e outros. Integrismo catolico/O fundamentalismo protestante. In: ACAT. Fundamentalismos [e] integrismos: uma ameaça aos direitos humanos. São Paulo: Paulinas, 2001.

[14] https://en.wikipedia.org/wiki/Marc_Boegner0

[15] Objeto desse trabalho é essa infiltração. Há outras, inclusive combatidas por elementos igualmente infiltrados, assaz devoradores .

[16] Politeia (do grego antigo: Πολιτεία ou Πολίτευμα, transl. Politeía ou Políteuma) era originalmente um termo usado na Grécia Antiga para se referir às muitas cidades-estado (pólis) que possuíam uma assembleia de cidadãos como parte de seu processo político. https://pt.wikipedia.org/wiki/Politeia

[17] Liberais, somente na economia. Na economia dos outros, pois quanto à própria são bem “regulados”. 

[19] https://pt.wikipedia.org/wiki/Dispensacionalismo

[20] https://pt.wikipedia.org/wiki/Amea%C3%A7a_vermelha_nos_Estados_Unidos

[21] Apenas pontuando figuras da contemporaneidade, o que dizer então das figuras do passado?

[22] A formação em Teologia e em Ciências Econômicas e Sociais de Biéler, em  conjunto com sua carreira pastoral, capacitou-o a tentar responder a questão: qual a nova ética social  para a nova sociedade que se instalará após o fim das hostilidades? Sua tese de doutorado em ciências econômicas, intitulada “ O Pensamento Econômico e Social de Calvino”, fornecer-lhe-ia as primeiras chaves de uma resposta elaborada, por meio de numerosas obras, no decurso de mais de um quarto de século. Por Racine.

[23] O dominionismo pós-milênico, por exemplo, perigosa distração de despreparados estudantes da reforma.

[24] “Tenho conhecimento de tudo isso daí. Agora imagina se o presidente fosse alguém do PT. Já tinha parado o Brasil já ». https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/05/15/interna_politica,855354/bolsonaro-imagina-se-o-presidente-fosse-do-pt-ja-tinha-parado-o-bra.shtml.Tal declaração repetida várias vezes pelo presidente Bolsonaro é direcionada a seus seguidores “desesperançosos” de que a situação possa melhorar  para o conjunto do povo, mas apenas para os que estão favorecidos por ele ocupando cargos no aparelho do Estado. Para estes o que se espera é só altos salários, diárias polpudas, rendimentos extras, gastos cobertos por cartão corporativo, benesses de DAS (Cargos de Direção e Assessoramento Superior) e CNE (Cargos de Natureza Especial) percebidos nesses tempos precedentes ao fim nos quais serão mantidos quando os seus ocupantes passaram sete anos de férias remuneradas de festa das “bodas do cordeiro”, os quais os aguardarão para o restante dos mil anos de governo da dinastia davídica-bolsonariana. Oh, bendita esperança para estes! E para o restante dos povos? E que destino cruel aguarda os homossexuais, prostitutas, bruxas... de apedrejamentos, enforcamentos... e as manadas de bois dispostas pelo Ministério da Pecuária para o sacrifício sacerdotal costumado restaurado?

Qual o truque, Mister M? Isso está em sintonia com a interpretação malafaiana de 2ª aos Tessalonicenses 2:3-10: “Ninguém de modo algum vos engane; porque o dia não chegará sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, ostentando-se como Deus. Não vos lembrais que eu vos dizia estas coisas, quando ainda estava convosco? Agora sabeis aquilo que o detém, a fim de que seja revelado a seu tempo. Pois o mistério da iniquidade já opera; somente até que seja removido aquele que agora o detém. Então será revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o assopro da sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda. A vinda desse ímpio é segundo a operação de Satanás com todo o poder, e com sinais e com prodígios mentirosos e com toda a sedução da injustiça para aqueles que perecem, porque não receberam o amor da verdade, a fim de serem salvos”.

Preserva “aquilo que o detêm” na base de DAS e CNE senão o PT volta! Portanto sem exoneração dos crentes  postados em postos políticos-chave, no lugar de gente capaz, concursada, “o mistério da iniquidade já opera; somente até que seja removido aquele que agora o detém”. Portanto, não o remova, senão o PT volta! O comunismo reina! E fica  pior! Com ele vale a teologia e ciência política do Deputado Tiririca, do PL, do  Centrão, “pior que está não fica”! Mas isso não será inevitável e condição  para  o arrebatamento? Então arrebatamento não vem enquanto não for oportuno e convenente? Crendo assim nesse truque, fica mole para os “santos dos últimos dias”, para os “contínuos apocalípticos históricos e futuristas”! Querem se perpetuar no poder adquirido messiânico redentivo e estabelecer as suas dinastias monárquicas medievais remasterizadas com os seus séquitos de nobres com mal disfarçadas boas guilhotinas anexadas aos seus pescoços reais milenários! Pois querem ainda reinar, tripudiar, sobre a cabeça de miseráveis espoliados! O que esses celerados têm acima dos pescoços, além dos seios e sulcos da face, acima da testa, no interior do cérebro, se não anencefálicos, sequer vale a decepada de um bom corte aço-inoxidável de uma bem afiada guilhotina e os ameaçam os  espoliados e despossuídos da terra, todos  nós plebeus, com arminha! “Aquilo que o detêm?” A igreja e os políticos ladinos que a explora em sua boa-fé são os estropícios, as “pedras drummondianas”, no caminho do anticristo? Façam o favor: vão por mim, os nossos problemas de Estado, reais e persistentes, com repercussões globais, não tem nada de 4D. Não é de game o que se trata nesse lado do véu. Entendeu? Apenas isso!  

[25] The Continuum History of Apocalypticism -  authors: Bernard McGinn, John J. Collins, John James Collins, Stephen Stein - A&C Black, 2003 - 672 páginas

[26] APOCALIPTICA (APOCALIPTICISMO). Em grego, o termo apokaillypsis, simplesmente quer dizer "revelação" e é nesse sentido que é empregado no Apocalipse de João que começa precisamente com essas palavras: "Apocalipse ou revelação de Jesus Cristo..." Contudo, precisamente devido ao uso particular desse livro o termo “apocalíptico” dois usos na presente linguagem.

Primeiramente, em seu uso mais comum se refere a algo catastrófico,  como quando alguém se  refere a uma “visão apocalíptica do desastre econômico que se aproxima".

Contudo, mais especificamente no discurso teológico e nos estudos bíblicos, o termo "apocalíptico" refere-se a certa perspectiva particular e à literatura que a reflete. Nesse sentido, o apocalipticismo parece ter surgido primeiramente na Pérsia, entre os zoroastrianos, e passou dali para o judaísmo durante os tempos de exílio, por último passou do judaísmo a certos setores do cristianismo primitivo. A principal característica do apocalipticismo é uma visão dualista da História, e a expectativa de que esse dualismo se resolverá em tempos escatológicos iminentes, mediante a vitória do bem sobre o mal. Essa visão dualista da História, na qual o princípio do bem se impõe ao princípio do mal, resultando na divisão da humanidade entre aqueles — normalmente a maioria — que servem aos poderes do mal, e que, portanto, gozam atualmente de poder e privilégios, e uma minoria no presente oprimida e perseguida que posteriormente participará da vitória final do bem, enquanto os maus seriam destruídos ou condenados ao sofrimento eterno Dentro  de tal perspectiva não nos surpreende o fato de que o apocalipticismo em geral surge entre aquelas minorias que se sentem oprimidas e perseguidas como os primeiros cristãos do cristianismo ou anabatistas do século XVI.

Além dessa perspectiva fundamental, a literatura apocalíptica mostra outros traços comuns. Afirma basear-se em visões, tende a utilizar termos simbólicos, como bestas estranhas, numerologia abundante, linguagem crítica que frequentemente só os que pertencem ao grupo podem entender. Boa parte da literatura apocalíptica é pseudônima, pois pretende ter sido escrita por alguma figura respeitada no passado. Tal é o caso do Apocalipse de Abraão, o Apocalipse de Elias, o Apocalipse de Pedro etc. “Breve Dicionário de Teologia”, Justo González – Editora Hagnos.

[27] https://pt.wikipedia.org/wiki/Apocaliticismo

[28] Os “mitos” de que Deus tem propósitos especiais para os  “vasos quebrados”, os “príncipes da Pérsia”, precisam ser tomados como tais, explorados e desmascarados. Essa gororoba não tem base bíblica, ou tem?   

[29] Seja lá o que isso possa significar em todo o seu preciosismo! Refere-se a pensamento de reformados, ou cristãos, que assimilam tal “ímpeto renovador”.

[30] Remenber “conciábulos”, or not?

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